Dia de Pentecostes
Rev. Edson Cortasio Sardinha
Encontrei um texto muito bom no site
dos Dehonianos de Portugal e adaptei para este artigo acrescentando alguns
apontamentos.
A experiência do Espírito ocorre no dia
de Pentecostes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada cinquenta dias
após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a
Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no primeiro século d.C, tornou-se para
os judeus a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a
constituição do Povo de Deus. O povo saiu do Egito e chegou ao Monte Sinai onde
Moisés recebeu a Lei. A Festa judaica fala da Lei dada por Deus e escrita em
pedras.
Ao situar neste dia o dom do
Espírito, Deus sugere que o Espírito é a Lei da nova aliança (pois é Ele que,
no tempo da Igreja, dinamiza a vida dos crentes) e que, por Ele, se constitui a
nova comunidade do Povo de Deus – a comunidade messiânica, que viverá da Lei escrita,
pelo Espírito, no coração de cada discípulo (cf. Ez 36.26-28).
O Espírito é apresentado como “a
força de Deus”, através de dois símbolos: o vento de tempestade e o fogo. São
os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus deu ao Povo a Lei e
constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt 4,36).
Estes símbolos evocam a força
irresistível de Deus, que vem ao encontro do homem, comunica com o homem e que,
dando ao homem o Espírito, constitui a comunidade de Deus. O Espírito vem em
forma de língua de fogo. A língua não é somente a expressão da identidade
cultural de um grupo humano, mas é também a maneira de comunicar, de
estabelecer laços duradouros entre as pessoas, de criar comunidade.
“Falar outras línguas” é criar
relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o
racismo, a marginalização… Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9): lá,
os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e
ao desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma
comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação.
É o surgimento de uma humanidade
unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência interior, fonte
de liberdade, de comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a comunidade onde
a ação de Deus (pelo Espírito) modifica profundamente as relações humanas,
levando à partilha, à relação, ao amor.
É neste enquadramento
que devemos entender os efeitos da manifestação do Espírito (cf. Act 2,5-13):
todos “os ouviam proclamar na sua própria língua as maravilhas de Deus”. O
elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito atinge representantes de
todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por Canaan, pela Ásia Menor,
pelo norte de África, até Roma: a todos deve chegar a proposta libertadora de
Jesus, que faz de todos os povos uma comunidade de amor e de partilha.
A comunidade de Jesus é assim
capacitada pelo Espírito para criar a nova humanidade, a anti-Babel. A
possibilidade de ouvir na própria língua “as maravilhas de Deus” outra coisa
não é do que a comunicação do Evangelho, que irá gerar uma comunidade
universal. Sem deixarem a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos
escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade
da salvação, onde se fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse
amor e essa comunhão que tornam povos tão diferentes, irmãos.
O essencial passa a ser a
experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve
unir todas as nações da terra. O Pentecostes dos “Atos” é, podemos dizê-lo, a
página programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da ação das
“testemunhas” de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da ação do
Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos
e irmãs, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como
fonte de amor e de liberdade.
Imagem:
Rosácea da Igreja Metodista de Vila Isabel em dedicação ao Espírito Santo.
Fonte
pesquisada: http://www.dehonianos.org