segunda-feira, 2 de junho de 2014

Dia de Pentecostes
Rev. Edson Cortasio Sardinha
            O tema deste domingo é o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes. O Espírito que dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo. Por isso neste dia oramos: “Vem Espírito Criador” (Veni Creator Spiritus). Este hino foi escrito por Rabano Mauro (780-856), na Mongúcia, no século IX.    No ano de 1662 entrou para o Livro de Oração Comum (Book of Common Prayer) da Igreja Anglicana. Martinho Lutero usou-o como base para o seu coral de Pentecostes "Komm, Gott Schöpfer, Heiliger Geist" composto em 1524.
            Encontrei um texto muito bom no site dos Dehonianos de Portugal e adaptei para este artigo acrescentando alguns apontamentos.
            A experiência do Espírito ocorre no dia de Pentecostes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no primeiro século d.C, tornou-se para os judeus a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus. O povo saiu do Egito e chegou ao Monte Sinai onde Moisés recebeu a Lei. A Festa judaica fala da Lei dada por Deus e escrita em pedras.
            Ao situar neste dia o dom do Espírito, Deus sugere que o Espírito é a Lei da nova aliança (pois é Ele que, no tempo da Igreja, dinamiza a vida dos crentes) e que, por Ele, se constitui a nova comunidade do Povo de Deus – a comunidade messiânica, que viverá da Lei escrita, pelo Espírito, no coração de cada discípulo (cf. Ez 36.26-28).
            O Espírito é apresentado como “a força de Deus”, através de dois símbolos: o vento de tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus deu ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt 4,36).
            Estes símbolos evocam a força irresistível de Deus, que vem ao encontro do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem o Espírito, constitui a comunidade de Deus. O Espírito vem em forma de língua de fogo. A língua não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas é também a maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros entre as pessoas, de criar comunidade.
            “Falar outras línguas” é criar relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a marginalização… Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9): lá, os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação.
            É o surgimento de uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a comunidade onde a ação de Deus (pelo Espírito) modifica profundamente as relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor.
            É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do Espírito (cf. Act 2,5-13): todos “os ouviam proclamar na sua própria língua as maravilhas de Deus”. O elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito atinge representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por Canaan, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma: a todos deve chegar a proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos uma comunidade de amor e de partilha.

            A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo Espírito para criar a nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de ouvir na própria língua “as maravilhas de Deus” outra coisa não é do que a comunicação do Evangelho, que irá gerar uma comunidade universal. Sem deixarem a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão que tornam povos tão diferentes, irmãos.
            O essencial passa a ser a experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve unir todas as nações da terra. O Pentecostes dos “Atos” é, podemos dizê-lo, a página programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da ação das “testemunhas” de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da ação do Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos e irmãs, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.

Imagem: Rosácea da Igreja Metodista de Vila Isabel em dedicação ao Espírito Santo.

Fonte pesquisada: http://www.dehonianos.org