domingo, 15 de junho de 2014


Dia da Santíssima Trindade
Rev. Edson Cortasio Sardinha


No domingo após o Pentecostes a Igreja Celebra o Dia da Santíssima Trindade. Os Ciclos do Natal e da Páscoa apontam para a Ação do Deus Triuno na Salvação da humanidade.
Há somente um DEUS, e uma só Trindade (ou "triunidade"). Deus subsiste numa unidade de três pessoas igualmente divinas e distintas.
            A oração familiar e cotidiana dos judeus, extraída de Deuteronômio 6.4, enfatiza a suprema grandeza da unidade divina: "Ouve, Israel, o Senhor nosso DEUS é o único Senhor".  A palavra "único", aqui usada, corresponde ao hebraico, "echad", que pode representar uma unidade composta ou complexa. Embora o hebraico possua uma palavra que signifique "somente um" ou "o único", "yachid", esta jamais é usada em relação a DEUS.
            Paralelamente a unidade de DEUS, deparamo-nos com o conceito de sua personalidade. A personalidade envolve o conhecimento (ou inteligência), os sentimentos (ou afetos) e a vontade. O PAI, o FILHO e o ESPÍRITO SANTO, cada um de per si, revelam tais características à sua própria maneira.
            O ESPÍRITO SANTO, por exemplo, faz coisas que o mostram realmente como uma pessoa distinta, e não como mero poder impessoal (At 8.29; 11.12; 13.2,4; 16.6,7; Rm 8.27; 15.30; 1Co 2.11; 12.11). A personalidade também requer comunhão. Todavia, antes da existência do Universo, onde estava a possibilidade de comunhão? A resposta está na Trindade.
A unidade de DEUS não exclui a possibilidade de nela haver personalidades compostas. Há três personalidades distintas, cada qual inteiramente divina, mas encontram-se tão harmonicamente inter-relacionadas que resultam numa única essência. Como se vê, seria totalmente errado afirmar que na Trindade haja três deuses e Uma maneira de se desvendar as distinções das pessoas, na divindade, consiste em se observar as funções atribuídas especificamente a cada uma delas.
            DEUS PAI é relacionado à obra da criação; DEUS FILHO é o principal agente da obra de redenção da humanidade; e DEUS ESPÍRITO SANTO é a garantia de nossa herança futura. Esta tríplice distinção é esboçada no primeiro capítulo de Efésios.
            Contudo, não devemos pressionar tais distinções, pois há abundante testemunho bíblico quanto à cooperação do FILHO e do ESPÍRITO SANTO na obra da criação: o PAI criou através do FILHO (Jo 1.3); o ESPÍRITO SANTO pairava gentilmente sobre a terra, preparando-a para os seis dias da criação (Gn 1.2). O PAI enviou o FILHO ao mundo para efetuar a redenção (Jo 3.16), e o próprio FILHO, em seu ministério, veio "no poder do ESPÍRITO" (Lc4.14).
            O PAI e o FILHO, de igual modo, tomam parte no ministério do ESPÍRITO SANTO, que consiste em santificar o crente. A Trindade é uma comunhão harmoniosa dentro da deidade. Essa comunhão é amorosa, porque DEUS é amor. Mas esse amor é expansivo, e não auto-centralizado.
            Ele requeria que, antes da criação, houvesse mais de uma Pessoa dentro do Divino Ser. Um importante vocábulo para se guardar, no tocante à doutrina da Trindade, é "subordinação". Há uma espécie de subordinação na ordem das relações das pessoas da Trindade, mas sem qualquer implicação quanto à natureza de cada uma delas.
            O FILHO e o ESPÍRITO são declarados como "procedentes" do PAI. É uma subordinação, pois, quanto às relações, mas não quanto à essência. O ESPÍRITO, por sua vez, é declarado procedente do PAI e do FILHO. Esta é a declaração ortodoxa da Igreja Ocidental, adotada por ocasião do Concílio de Nicéia, em 325 d.C, e incorporada em diversos credos.
            Embora o termo "trindade" não seja encontrado em nenhum lugar da Bíblia, há numerosas passagens que lhe fazem alusão. Um exemplo é visto de maneira clara nos eventos que cercam o batismo de JESUS no rio Jordão: -Batizado JESUS, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o ESPÍRITO de DEUS descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é meu FILHO amado, em quem me comprazo" (Mt 3.16,17).
            Nos 25 Artigos de Religião, John Wesley inicia dizendo:

“Há um só Deus vivo e verdadeiro, eterno, sem corpo nem partes; de poder, sabedoria e bondade infinitos; criador e conservador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Na unidade desta Divindade, há três pessoas da mesma substância, poder e eternidade - Pai, Filho e Espírito Santo.

Fonte pesquisada: Livro A TRINDADE de Willian W.Menzies e Stanley M.Horton,  Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

Os 25 Artigos de Religião dos Metodistas. Cânones 2012. 
De Volta ao Tempo Comum
Rev. Edson Cortasio Sardinha




Com a Festa do Dia de Pentecostes retornamos ao Tempo Comum. Serão no total 34 Semanas e terminará no dia 29 de novembro, vésperas do primeiro Domingo do Advento.
“Tempo comum”, “Tempo ordinário” ou “Tempo durante o ano” são três designações para o período de cerca de dois terços de todo o ano litúrgico (33 ou 34 semanas) e que tem como característica própria celebrar o mistério de Cristo na sua globalidade, em vez de se centrar numa dimensão desse mesmo mistério de Cristo.
O Tempo Comum começa na segunda-feira a seguir ao domingo que ocorre depois do dia 6 de Janeiro e prolonga-se até à terça-feira antes da Quaresma inclusive; retoma-se na segunda-feira a seguir ao Domingo do Pentecostes e termina antes das Vésperas do primeiro Domingo do Advento.
            O que caracteriza este longo tempo litúrgico é a celebração do mistério de Cristo na sua globalidade, especialmente nos Domingos.
Esta globalidade significa que a manifestação do Senhor não se celebra exclusivamente no ciclo natalício, mas continua no Tempo comum; significa que a Páscoa não se celebra apenas no ciclo próprio, mas que ilumina toda a existência cristã ao longo do ano; significa que toda a vida de Cristo, com a salvação que traz e torna presente, acompanha a vivência cristã de todo o ano litúrgico. Todo domingo é Páscoa do Senhor.
            É na celebração do Domingo, Dia do Senhor e “Páscoa semanal”, que o Tempo comum encontra o seu centro significativo. Ora, os Domingos do Tempo comum são aqueles que se podem considerar os Domingos no seu estado mais puro: Páscoa semanal e primeiro dia da semana, que dá sentido à vivência de toda a semana.
Antes da Igreja celebrar o Natal ou a Páscoa cristã, ela celebrava todos os domingo o Tempo Comum. Isso significa que todo domingo é festa que celebra o nascimento, morte e ressurreição de Jesus. 
            Nos domingos do Tempo Comum, as leituras do Evangelho apresentam Jesus na normalidade quotidiana dos seus gestos e dos seus ensinamentos. Os textos evangélicos aparecem-nos, assim, como a grande escola dos discípulos de Cristo, dos cristãos, que acompanham o Mestre e O escutam no dia a dia; que procuram configurar as suas vidas com a do próprio Cristo. O Tempo comum é tempo de amadurecimento da vivência da fé.
Todas as ações da Igreja, seja no Tempo Comum ou nos Ciclos do Natal e Páscoa, deverão visar o discipulado.

A Igreja morre quando deixa de fazer novos discípulos e discípulas. Nossa Missão é semear a justiça e a paz através de um forte comprometimento com a Palavra do Senhor que nos manda fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.19).

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Dia de Pentecostes
Rev. Edson Cortasio Sardinha
            O tema deste domingo é o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes. O Espírito que dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo. Por isso neste dia oramos: “Vem Espírito Criador” (Veni Creator Spiritus). Este hino foi escrito por Rabano Mauro (780-856), na Mongúcia, no século IX.    No ano de 1662 entrou para o Livro de Oração Comum (Book of Common Prayer) da Igreja Anglicana. Martinho Lutero usou-o como base para o seu coral de Pentecostes "Komm, Gott Schöpfer, Heiliger Geist" composto em 1524.
            Encontrei um texto muito bom no site dos Dehonianos de Portugal e adaptei para este artigo acrescentando alguns apontamentos.
            A experiência do Espírito ocorre no dia de Pentecostes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no primeiro século d.C, tornou-se para os judeus a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus. O povo saiu do Egito e chegou ao Monte Sinai onde Moisés recebeu a Lei. A Festa judaica fala da Lei dada por Deus e escrita em pedras.
            Ao situar neste dia o dom do Espírito, Deus sugere que o Espírito é a Lei da nova aliança (pois é Ele que, no tempo da Igreja, dinamiza a vida dos crentes) e que, por Ele, se constitui a nova comunidade do Povo de Deus – a comunidade messiânica, que viverá da Lei escrita, pelo Espírito, no coração de cada discípulo (cf. Ez 36.26-28).
            O Espírito é apresentado como “a força de Deus”, através de dois símbolos: o vento de tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus deu ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt 4,36).
            Estes símbolos evocam a força irresistível de Deus, que vem ao encontro do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem o Espírito, constitui a comunidade de Deus. O Espírito vem em forma de língua de fogo. A língua não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas é também a maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros entre as pessoas, de criar comunidade.
            “Falar outras línguas” é criar relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a marginalização… Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9): lá, os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação.
            É o surgimento de uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a comunidade onde a ação de Deus (pelo Espírito) modifica profundamente as relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor.
            É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do Espírito (cf. Act 2,5-13): todos “os ouviam proclamar na sua própria língua as maravilhas de Deus”. O elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito atinge representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por Canaan, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma: a todos deve chegar a proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos uma comunidade de amor e de partilha.

            A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo Espírito para criar a nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de ouvir na própria língua “as maravilhas de Deus” outra coisa não é do que a comunicação do Evangelho, que irá gerar uma comunidade universal. Sem deixarem a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão que tornam povos tão diferentes, irmãos.
            O essencial passa a ser a experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve unir todas as nações da terra. O Pentecostes dos “Atos” é, podemos dizê-lo, a página programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da ação das “testemunhas” de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da ação do Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos e irmãs, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.

Imagem: Rosácea da Igreja Metodista de Vila Isabel em dedicação ao Espírito Santo.

Fonte pesquisada: http://www.dehonianos.org