Quaresma: O Caminho espiritual para a Páscoa
Rev.
Edson Cortasio Sardinha
Introdução:
Na Quarta-feira de Cinzas iniciamos
o período da Quaresma. Estamos entrando no Ciclo Pascal. Para entendermos a
quaresma precisamos olhar para a conversão dos Ninivitas.
Jonas foi forçado por Deus a ir a
Nínive pregar a palavra profética. Deus disse: “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e proclama contra ela a mensagem
que eu te digo”. Jonas percorreria a cidade em três dias. Jonas começou a
percorre-la e dizia: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida”. Sua
mensagem foi clara: Deus destruirá Nínive em quarenta dias. Resta apenas uma
Quaresma para o povo de Nínive.
Os Ninivitas teriam apenas uma quaresma de vida. Eles creram
em Deus, e proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior
até o menor. O Rei de Ninive ficou sabendo da mensagem de Jonas. Foi tão
impactado que se levantou do seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se
de pano de saco, assentou-se sobre cinza e proclamou um jejum para todos os
habitantes e animais de Nínive.
Mandou que todos fossem cobertos de pano de saco, clamassem
fortemente a Deus e se convertessem de seus pecados. O rei esperava a
misericórdia de Deus. Disse o rei: “Quem sabe se voltará Deus, e se
arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?”
Deus se agradou do arrependimento e dos sinais da conversão.
“Viu
Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se
arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez”. (Jn 3.1-10).
Jejum, pano de
saco, cinzas, orações, clamor e conversão marcaram o arrependimento dos
Ninivitas. Foi uma quaresma perfeita que os livrou da destruição eminente.
I. O simbolismo do número
quarenta na Bíblia.
O número 40 (quarenta) indica um
tempo necessário de preparação para algo novo que vai chegar. Observe a
presença do número quarenta na Bíblia:
40 dias e quarenta noites do dilúvio (Gn 7.4-12).
40 dias e 40 noites passa Moisés no Monte (Ex
24.18; 34.26; Dt 9.9-11; 10.10);
40 anos foi o tempo da peregrinação pelo deserto (Nm
14.33; 32.13; Dt 8.2; 29.4, etc.).
40 dias de caminhada de Elias até o monte do Senhor
(I Rs 19.8).
O Senhor Jesus jejuou 40 dias antes de
começar o seu ministério (Mt 4,2; Mc 1,12; Lc 4,2);
A Ascensão de Jesus acontece 40 dias depois da
Ressurreição (At 1,3).
II. A Quaresma como caminho para
a Páscoa.
A quaresma é mencionada pela
primeira vez no Concílio de Nicéia (325 d.C.).
Foi criada a partir de duas práticas da Igreja Primitiva: O longo jejum
anterior à Páscoa (pratica judaica) e o período de preparação para o batismo.
Desde o II século o candidato ao
batismo esperava três anos para ser batizado. O batismo ocorria uma vez ao ano,
no dia da Páscoa. Na Sexta feira ele ia à igreja e colocava as roupas de
neófitos. Ali ficava em jejum até o Domingo da ressurreição onde era batizado
nu, em geral por derramamento.
O número quarenta foi determinado
pela duração do jejum do Senhor Jesus no deserto. Para alguns líderes da igreja
do passado, a quaresma terminava na Quinta-feira Santa e a contagem de 40 dias
não contemplava os sábados e domingos.
A quaresma passou ser um caminho
de oração, jejum e arrependimento como preparação para a devida celebração da
Paixão e Ressurreição do Senhor.
III. A Quarta-feira de Cinzas
No século VII d.C. foram
acrescentados quatro dias antes do primeiro domingo da Quaresma estabelecendo
os quarenta dias de jejum, para imitar o jejum de Cristo no deserto. Assim a
quaresma começava na quarta-feira de cinzas.
Era prática comum em Roma que os
penitentes (arrependidos de seus pecados) começassem sua penitência pública no
primeiro dia de Quaresma. Eles eram salpicados de cinzas, vestidos com sacos e
obrigados a manter-se longe até que se reconciliassem com a Igreja na
Quinta-feira Santa ou a Quinta-feira antes da Páscoa.
Quando estas práticas caíram em
desuso (do século VIII ao X) o início do Tempo da Quaresma foi simbolizada
colocando cinzas nas cabeças de toda a congregação.
Hoje em dia na Igreja católica,
na Quarta-feira de Cinzas, o cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas
obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior.
Esta tradição católica ficou como
um simples serviço em algumas Igrejas protestantes como a anglicana e a
luterana. A Igreja Ortodoxa começa a quaresma desde a segunda-feira anterior e
não celebra a Quarta-feira de Cinzas.
Para nós a quarta-feira de cinzas
é o início da preparação para a Semana Santa e para a Páscoa.
As leituras da Quarta-feira de
cinzas para os anos A,B e C são as mesmas: Jl 2:1-2, 12-17 ou Is 58:1-12; Sl 51:1-17; 2 Co 5:20b-6.10; Mt 6:1-6,
16-21.
IV. O Livro de Oração Comum, a Quarta-feira
de Cinzas e o Primeiro Domingo da Quaresma
Na coleta de Quarta-feira de cinzas
a oração do Livro de Oração comum diz:
“Onipotente
e Eterno Deus, que amas tudo quanto criaste, e que perdoas a todos os
penitentes; cria em nós corações novos e contritos, para que, lamentando
deveras os nossos pecados e confessando a nossa miséria, alcancemos de ti, Deus
de suma piedade, perfeita remissão e perdão; por nosso Senhor Jesus Cristo, que
vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
A oração do Primeiro
Domingo da Quaresma nos leva a refletir sobre a tentação do Senhor:
"Onipotente Deus, cujo bendito Filho foi
conduzido pelo Espírito para ser tentado pelo demônio, apressa-te em socorrer a
nós, que somos assaltados por muitas tentações, nós te rogamos. E, assim como
conheces as fraquezas de cada um de nós, permite que cada qual encontre em ti o
poder de salvação. Por Jesus Cristo teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina
contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
V. A Quaresma na Igreja Metodista.
O Colégio
Episcopal na Carta Pastoral sobre o Culto na Igreja Metodista dá a seguinte
orientação sobre a Quaresma:
“A Quaresma: Da
Quarta-feira de cinzas ao Domingo de Ramos, este período enfatiza a importância
da contrição, do preparo e da conversão. Inicia-se no 40° dia antes da Páscoa,
sem contar os domingos. O início, na Quarta-feira de cinzas, retorna à tradição
bíblica do arrependimento com cinzas e vestes de saco (Jn 3.5-6). É um momento
oportuno para refletir sobre a confissão e o valor do perdão de Deus. Sua
espiritualidade enfatiza momentos de preparo na história bíblica geral e da vida
de Jesus: • Quarenta dias de Jesus no deserto (Mt 4.2; Lc 4.1ss) • Quarenta
anos do povo no deserto (Ex 16.35) • Elias em direção ao Horeb (1Rs 19.8).
Cores da Quaresma: roxo ou lilás. Essas cores
enfatizam a preparação, a expectativa, a saudade, a contrição e o arrependimento.
(...)
Símbolos
da Quaresma: • Cinzas, referindo-se ao arrependimento; • Ramos, lembrando
a entrada triunfal; • Coroa de espinhos e os cravos, rememorando o sofrimento
de Cristo”. (Carta Pastoral sobre o Culto na Igreja Metodista).
VI. A Quaresma
no calendário Cristão.
Com a Quaresma
tem início o Tempo Pascal. Estramos na celebração dos quatro períodos
litúrgicos: Quaresma, Semana Santa, Páscoa e Pentecostes.
A Quaresma abre
as portas para este período de vivencia do sacrifício, morte e ressurreição do
Senhor. O Centro do calendário Cristão é a Páscoa e a quaresma é a preparação
para este momento de oração e contrição.
VII. As Leituras do Primeiro Domingo
da Quaresma
A primeira leitura é Dt 26.4-10. Este texto fala do ritual de lembrança
da Libertação do Senhor antes da oferta das primícias. O povo lembrará
que vivia em sofrimento e escravidão e que Deus o libertou com poderosa mão do
Egito. Depois desta lembrança o povo adorará o Senhor com as primícias. Deus
deve ser lembrado como o libertador.
O Salmo cantado é o 91.1-15. É o Salmo que apresenta o Senhor
como o Libertador. Ele é o esconderijo, o refúgio e o baluarte de
confiança. O Salmo fala do livramento que vem do Senhor e aponta para o Messias
que seria sustentado pelos anjos. Nesta relação de confiança o homem de Deus
“invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele,
livrá-lo-ei e o glorificarei (15).
A Epístola é Rm 10.8-13. A grande libertação está na Salvação
que vem pelo nome do Senhor. A salvação está no nome do Senhor mediante seu
sofrimento e ressurreição. Quem invocar o seu nome será salvo. Por isso que
(9) Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
O Evangelho é Lc 4.1-13. Lucas apresenta Jesus, cheio do Espírito Santo, voltando do
Jordão e sendo guiado pelo Espírito ao deserto. Diante da tentação, Jesus é
livre de toda cilada mediante a instrumentalidade da Palavra de Deus. A
libertação está na Palavra. Este Evangelho
fala da Quaresma de Jesus. Quarenta dias sem comer e sendo tentado pelo diabo.
O diabo tenta hostilizar Jesus no alimento, na vã glória e na vã adoração. Em
todo tempo Jesus caminha por sua quaresma dizendo “Está Escrito”. O Senhor
vence a tentação, baseado unicamente na Palavra de Deus. A Palavra nos liberta.
O
tema do primeiro Domingo da Quaresma é a libertação que vem de Jesus. Passamos
por aflições, sofrimentos e tentações, mas em Cristo alcançamos a libertação.
Se Jesus nos libertar verdadeiramente seremos livres.
VIII.
Como viver o período Quaresmal?
Os
domingos: Os domingos da Quaresma são ricos. Os Evangelhos e os textos
Bíblicos convidam para o arrependimento e nos preparam para o sacrifício do
Senhor.
Lecionário: Leia as
leituras Bíblicas de cada domingo que são apresentadas no final do Boletim,
segundo o Lecionário Comum.
Jejum: Faça jejum uma
vez por semana, de preferência na sexta-feira lembrando-se da morte do Senhor.
Caso tenha dúvidas, por motivo de saúde, pergunte ao seu médico sobre a duração
do jejum e o que não poderá se abster nestas horas.
Abstinência: Faça
abstinência em oração e consagração de alguma coisa importante para você.
(televisão, carne, refrigerante, etc.).
Oração: Coloque diante
de Deus diariamente sua vida e família e clame por conversão e unção de Deus
para que possamos viver verdadeiramente a justiça e a paz de Cristo no mundo.
Leituras
de Espiritualidade: Procure leituras próprias para este período. Livros que
falem sobre oração, jejum, conversão, perdão, etc.
Caridade: Não apenas na
Quaresma, mas em todo o tempo, viva o jejum praticando a Caridade e o amor ao
próximo.
Conversão: Todo tempo
pensamos na necessidade de conversão. A Quaresma nos ajuda a aprofundar este
exame pessoal e nos convida ao arrependimento e a volta para o Senhor.
Retiros
Quaresmais: Participe de Retiros Quaresmais. Estaremos em Retiro todas
as Sextas-feiras da Quaresma, das 7 horas da manhã às 7:40h.
Conclusão:
A Quaresma foi a
primeira campanha de oração da Igreja. Uma campanha de Oração de preparação
para o Santo Batismo que ocorria sempre na vigília da Páscoa.
Que esta
quaresma seja uma grande campanha de santidade e discipulado em nossa vida.
Vamos nos preparar para o Domingo de Ramos, a Semana Santa e a ressurreição do
Senhor.
Livros
recomendados para Quaresma:
·
É Tempo de
Quaresma – Editora Sinodal. Este livro-presente reflete o significado
da Quaresma na vida das pessoas cristãs e apresenta propostas de exercícios
quaresmais.
·
Celebrar Páscoa em Família e
Comunidade. Organização: Alfredo Jorge Hagsma, Vera Regina
Waskow. Editora Sinodal.
·
Ele
escolheu Você. Max Lucado. CPAD.
·
Ciclo da Páscoa (O) . Celebrando a redenção do Senhor Bruno Carneiro Lira (Org.) Editora Paulinas.
·
Convertei-vos e crede no evangelho.
Meditações para o tempo da Quaresma e Tríduo Pascal - Valter Maurício Goedert Editora Paulinas.
Meditações para o tempo da Quaresma e Tríduo Pascal - Valter Maurício Goedert Editora Paulinas.
·
Páscoa (A) - Uma passagem para aquilo que não
passa. Raniero Cantalamessa
Editora Paulinas.
·
Preparando a Páscoa - Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo
Pascal. Ione Buyst
Editora Paulinas.
·
Caminho pascal da Quaresma (O) . José
Humberto Motta Editora Paulinas