domingo, 23 de dezembro de 2012

A Liturgia do Natal


A Liturgia do Natal
Rev. Edson Cortasio Sardinha


            A Celebração do Natal tem início na Oração das Vésperas do dia 24 de dezembro e dura até o sábado antes da Epifania (Celebração da Manifestação do Senhor) ou até a véspera do dia 05 de janeiro.
            As celebrações litúrgicas na noite de 24 de dezembro são prolongadas para a grande festividade do dia 25. Infelizmente com o tempo o Natal foi sendo secularizado e em algumas casos substituídos por festas pagãs ou até mesmo festa judaicas como o Chanuká.
           
I. Natal ou Chanuká ( hannukkah)
            Algumas igrejas evangélicas, influenciadas pelo Judaísmo tem celebrado o Chanuká no lugar do Natal do Senhor.
            Chanuká é uma festa judaica. Os judeus guardam o feriado por oito dias em honra a vitória histórica dos Macabeus e ao milagre do óleo. A palavra hebraica Chanuká quer dizer "dedicação." Esta festa está relacionada a um acontecimento do segundo século antes de Cristo, quando poucos lutadores judeus, após vencerem os Siros, entraram em Jerusalém em dezembro, 164 A.C. O Templo Sagrado estava destruído, sujo e profanado por soldados gregos. Eles limparam o Templo e reinauguraram-no no 25° dia do mês judaico de Kislev (equivale ao mês de dezembro). Quando chegou o  tempo de iluminar novamente a Menorá, eles procuraram no Templo inteiro, mas só encontraram um jarro pequeno de óleo com a autentificação do Sumo-Sacerdote. Segundo a lenda, milagrosamente, o pequeno jarro de óleo queimou por oito dias, até que um novo suplemento de óleo pôde ser trazido. Daí em diante, os judeus guardam o feriado por oito dias em honra à histórica vitória  e ao milagre do óleo. Assim nasceu a festa do Chanuká (aishbrasil.com.br).
            O que esta festa tem haver com o nascimento de Jesus? Absolutamente nada. A Chanuká não significa o Natal do Senhor.       Estas igrejas modernas voltaram a tradição judaica por desconhecer a liturgia e a história da Igreja e também para tentar se afastar da herança litúrgica da Igreja latina que apesar de vários erros doutrinários, conservou uma matriz rica e  histórica na liturgia.

II. Porque Comemoramos o Natal no dia 25 de dezembro?
            A data do 25 do dezembro foi fixada pelos pagãos para celebrar o nascimento do sol Natalis solis invicti. Os pagãos só começaram a celebrar essa data no ano 274 d.C. Nesse período, a igreja estava passando pelos seus últimos e terríveis dias de perseguição. O paganismo estava ainda forte, e esta foi uma estratégia para apagar as raízes do Cristianismo e formar raízes religiosas nos cristãos.
            Em 336 d.C, 62 anos depois, a Igreja de Roma incluiu no calendário Filocaliano a celebração do Natal Cristão no dia 25 de dezembro. Como o Edito do Tolerância de Constantino em 313 d.C., que deu liberdade religiosa aos cristãos, abriu as portas para a evangelização, a Igreja procurou diversas estratégias, dentro de sua limitação, para colocar Jesus como o Soberano das Nações, o Deus encarnado.
            Como a provocação de 274 d.C. deu certo para o lado dos pagãos, agora a igreja, gozando de liberdade, toma posse da data e proclama Jesus Cristo o Sol da Justiça, baseado em Malaquias 4.2.
            Na oratória de implantação do Evangelho, a frase era: “Vamos celebrar o Nascimento do nosso Rei no dia 25 de dezembro. O deus Sol está destronado”.
            Além de ser uma afronta ao paganismo, foi uma estratégia para colocar Jesus no centro da vida social e derrubar os sentimentos religiosos antigos do novo convertido.

III. As Orações do Natal
            O Livro de Oração Comum apresenta orações para a véspera e o Dia de Natal.
            Na Vigília de Natal dizemos: "Ó Deus, todos os anos nos alegras com a lembrança do nascimento de Teu Filho; ajuda-nos a recebê-lo pela fé como nosso redentor, e dá-nos a graça de o contemplarmos sem temor no dia em que vier como nosso juiz. Mediante o mesmo Jesus Cristo, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém".

            Para o Dia de Natal existem duas orações próprias: "Deus Onipotente, que nos deste teu unigênito Filho para que tomasse sobre si a nossa natureza, e nascesse neste tempo de uma virgem; concede que nós, renascidos e feitos teus filhos por adoção e graça, sejamos de dia em dia renovados por teu Santo Espírito; mediante nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém".
            "Ó Deus, que fizeste esta noite santa brilhar com a verdadeira luz; concede a nós que conhecemos o mistério dessa luz sobre a terra, tenhamos no céu o gozo perfeito de sua presença, onde contigo e com o Espírito Santo vive e reina um só Deus, agora e sempre. Amém".

IV. As Leituras de Natal - Anos A, B e C
            O Lecionário Comum - Ano C, lemos Isaías 9.1-6, Salmo 96, Tito 2.11-14 e Lucas 2.1-14.
            O profeta Isaías (9.1-6) diz que uma luz resplandeceu para o povo que andava em trevas. Deus aumentou a alegria do povo pois quebrou o jugo. Tudo isso porque um "menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz".
            O Salmo 96 nos convoca a cantar um novo cântico de alegria. Um cântico pela a alegria do Senhor que vem. Jesus nasceu e precisamos  cantar ao Senhor e proclamar a sua salvação, dia após dia.
            Para Tito (2.11-14) Paulo diz que a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Esta é a alegria. A nossa salvação. Este é o Natal de Cristo que foi concluído em sua morte e ressurreição. Hoje aguardamos a " bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, 14   o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras".
            O Evangelho de Lucas 2.1-14 narra a alegria do maravilhoso nascimento de Jesus em Belém numa manjedoura. Esta manjedoura serve de sinal para os pastores dos campos de Belém. A mensagem é de alegria. O Anjo diz aos pastores: "Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.        Natal é tempo de alegria da salvação.

Conclusão:
            Devemos transformar nossa igreja e nossas casas numa nova Belém. Ver novamente o Salvador nascendo e deixar ele transformar nossas vidas em lugar de justiça, fraternidade e amor.
            Este foi o esforço de Francisco de Assis narrado por Tomás de Celano sobre o Natal em Greccio, na Itália:

  "Quinze dias antes do Natal, Francisco disse  «Quero evocar a memória do Menino que nasceu em Belém e de todos os sofrimentos que padeceu desde a Sua infância. Quero vê-Lo, com os meus olhos carnais, tal como Ele estava, deitado numa manjedoura, dormindo sobre o feno, entre uma vaca e um burro». Chegou o dia da alegria. [...] Convocaram-se os irmãos de vários conventos dos arredores. Segundo as possibilidades de cada um, com a alma em festa, o povo dos campos, homens e mulheres, prepararam tochas e círios para iluminar essa noite em que se elevou a estrela cintilante que ilumina todos os séculos. Ao chegar, Francisco viu que tudo estava pronto e alegrou-se muito. Tinham trazido uma manjedoura e feno; também tinham trazido uma vaca e um burro. Ali valorizava-se a simplicidade, era o triunfo da pobreza, a melhor lição de humildade: Greccio tinha-se tornado uma nova Belém. A noite fez-se luminosa como o dia e deliciosa quer para os animais quer para os homens. Multidões acorreram e a renovação do mistério reavivou a alegria. Os bosques ressoavam com os cânticos; as montanhas repercutiam ecos. Os irmãos cantavam os louvores do Senhor e toda a noite foi repleta de alegria. Francisco passou o serão de pé diante do presépio, pleno de compaixão e cheio de uma alegria inexprimível. Por fim, celebraram a missa com a manjedoura a fazer de altar e o sacerdote sentiu um fervor nunca antes experimentado. Depois pregou ao povo e encontrou palavras doces como o mel para falar do nascimento do pobre Rei e da pequena aldeia de Belém". ( Tomás de Celano - Primeira Vida, 84, 86).