A Liturgia do Natal
Rev. Edson Cortasio
Sardinha
A
Celebração do Natal tem início na Oração das Vésperas do dia 24 de dezembro e
dura até o sábado antes da Epifania (Celebração da Manifestação do Senhor) ou
até a véspera do dia 05 de janeiro.
As
celebrações litúrgicas na noite de 24 de dezembro são prolongadas para a grande
festividade do dia 25. Infelizmente com o tempo o Natal foi sendo secularizado
e em algumas casos substituídos por festas pagãs ou até mesmo festa judaicas
como o Chanuká.
I. Natal ou
Chanuká ( hannukkah)
Algumas
igrejas evangélicas, influenciadas pelo Judaísmo tem celebrado o Chanuká no
lugar do Natal do Senhor.
Chanuká
é uma festa judaica. Os judeus guardam o feriado por oito dias em honra a
vitória histórica dos Macabeus e ao milagre do óleo. A palavra hebraica Chanuká
quer dizer "dedicação." Esta festa está relacionada a um
acontecimento do segundo século antes de Cristo, quando poucos lutadores judeus,
após vencerem os Siros, entraram em Jerusalém em dezembro, 164 A.C. O Templo
Sagrado estava destruído, sujo e profanado por soldados gregos. Eles limparam o
Templo e reinauguraram-no no 25° dia do mês judaico de Kislev (equivale ao mês
de dezembro). Quando chegou o tempo de iluminar novamente a Menorá, eles
procuraram no Templo inteiro, mas só encontraram um jarro pequeno de óleo com a
autentificação do Sumo-Sacerdote. Segundo a lenda, milagrosamente, o pequeno
jarro de óleo queimou por oito dias, até que um novo suplemento de óleo pôde
ser trazido. Daí em diante, os judeus guardam o feriado por oito dias em honra
à histórica vitória e ao milagre do óleo. Assim nasceu a festa do Chanuká
(aishbrasil.com.br).
O
que esta festa tem haver com o nascimento de Jesus? Absolutamente nada. A Chanuká
não significa o Natal do Senhor. Estas
igrejas modernas voltaram a tradição judaica por desconhecer a liturgia e a
história da Igreja e também para tentar se afastar da herança litúrgica da
Igreja latina que apesar de vários erros doutrinários, conservou uma matriz
rica e histórica na liturgia.
II. Porque
Comemoramos o Natal no dia 25 de dezembro?
A
data do 25 do dezembro foi fixada pelos pagãos para celebrar o nascimento do
sol Natalis solis invicti. Os pagãos só começaram a celebrar essa data no ano
274 d.C. Nesse período, a igreja estava passando pelos seus últimos e terríveis
dias de perseguição. O paganismo estava ainda forte, e esta foi uma estratégia
para apagar as raízes do Cristianismo e formar raízes religiosas nos cristãos.
Em 336
d.C, 62 anos depois, a Igreja de Roma incluiu no calendário Filocaliano a
celebração do Natal Cristão no dia 25 de dezembro. Como o Edito do Tolerância
de Constantino em 313 d.C., que deu liberdade religiosa aos cristãos, abriu as
portas para a evangelização, a Igreja procurou diversas estratégias, dentro de
sua limitação, para colocar Jesus como o Soberano das Nações, o Deus encarnado.
Como
a provocação de 274 d.C. deu certo para o lado dos pagãos, agora a igreja,
gozando de liberdade, toma posse da data e proclama Jesus Cristo o Sol da
Justiça, baseado em Malaquias 4.2.
Na
oratória de implantação do Evangelho, a frase era: “Vamos celebrar o Nascimento
do nosso Rei no dia 25 de dezembro. O deus Sol está destronado”.
Além
de ser uma afronta ao paganismo, foi uma estratégia para colocar Jesus no
centro da vida social e derrubar os sentimentos religiosos antigos do novo
convertido.
III. As Orações
do Natal
O
Livro de Oração Comum apresenta orações para a véspera e o Dia de Natal.
Na Vigília de Natal dizemos: "Ó Deus, todos os anos nos
alegras com a lembrança do nascimento de Teu Filho; ajuda-nos a recebê-lo pela
fé como nosso redentor, e dá-nos a graça de o contemplarmos sem temor no dia em
que vier como nosso juiz. Mediante o mesmo Jesus Cristo, que vive e reina
contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém".
Para o Dia de Natal existem duas
orações próprias: "Deus Onipotente, que
nos deste teu unigênito Filho para que tomasse sobre si a nossa natureza, e
nascesse neste tempo de uma virgem; concede que nós, renascidos e feitos teus
filhos por adoção e graça, sejamos de dia em dia renovados por teu Santo
Espírito; mediante nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina contigo e com o
Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém".
"Ó
Deus, que fizeste esta noite santa brilhar com a verdadeira luz; concede a nós
que conhecemos o mistério dessa luz sobre a terra, tenhamos no céu o gozo
perfeito de sua presença, onde contigo e com o Espírito Santo vive e reina um
só Deus, agora e sempre. Amém".
IV.
As Leituras de Natal - Anos A, B e C
O Lecionário Comum - Ano C, lemos
Isaías 9.1-6, Salmo 96, Tito 2.11-14 e Lucas 2.1-14.
O profeta Isaías (9.1-6) diz que
uma luz resplandeceu para o povo que andava em trevas. Deus aumentou a alegria
do povo pois quebrou o jugo. Tudo isso porque um "menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus
ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz".
O Salmo 96 nos convoca a cantar um
novo cântico de alegria. Um cântico pela a alegria do Senhor que vem. Jesus
nasceu e precisamos cantar ao Senhor e
proclamar a sua salvação, dia após dia.
Para
Tito (2.11-14) Paulo diz que a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens. Esta é a alegria. A nossa salvação. Este é o Natal de Cristo que foi
concluído em sua morte e ressurreição. Hoje aguardamos a " bendita
esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo
Jesus, 14 o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de
remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente
seu, zeloso de boas obras".
O
Evangelho de Lucas 2.1-14 narra a alegria do maravilhoso nascimento de Jesus em
Belém numa manjedoura. Esta manjedoura serve de sinal para os pastores dos
campos de Belém. A mensagem é de alegria. O Anjo diz aos pastores: "Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande
alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi,
o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Natal
é tempo de alegria da salvação.
Conclusão:
Devemos
transformar nossa igreja e nossas casas numa nova Belém. Ver novamente o
Salvador nascendo e deixar ele transformar nossas vidas em lugar de justiça,
fraternidade e amor.
Este
foi o esforço de Francisco de Assis narrado por Tomás de Celano sobre o Natal
em Greccio, na Itália:
"Quinze dias antes do Natal,
Francisco disse «Quero evocar a memória
do Menino que nasceu em Belém e de todos os sofrimentos que padeceu desde a Sua
infância. Quero vê-Lo, com os meus olhos carnais, tal como Ele estava, deitado
numa manjedoura, dormindo sobre o feno, entre uma vaca e um burro». Chegou o
dia da alegria. [...] Convocaram-se os irmãos de vários conventos dos
arredores. Segundo as possibilidades de cada um, com a alma em festa, o povo
dos campos, homens e mulheres, prepararam tochas e círios para iluminar essa
noite em que se elevou a estrela cintilante que ilumina todos os séculos. Ao
chegar, Francisco viu que tudo estava pronto e alegrou-se muito. Tinham trazido
uma manjedoura e feno; também tinham trazido uma vaca e um burro. Ali
valorizava-se a simplicidade, era o triunfo da pobreza, a melhor lição de
humildade: Greccio tinha-se tornado uma nova Belém. A noite fez-se luminosa
como o dia e deliciosa quer para os animais quer para os homens. Multidões
acorreram e a renovação do mistério reavivou a alegria. Os bosques ressoavam
com os cânticos; as montanhas repercutiam ecos. Os irmãos cantavam os louvores
do Senhor e toda a noite foi repleta de alegria. Francisco passou o serão de pé
diante do presépio, pleno de compaixão e cheio de uma alegria inexprimível. Por
fim, celebraram a missa com a manjedoura a fazer de altar e o sacerdote sentiu
um fervor nunca antes experimentado. Depois pregou ao povo e encontrou palavras
doces como o mel para falar do nascimento do pobre Rei e da pequena aldeia de
Belém". ( Tomás de Celano - Primeira Vida, 84, 86).