sábado, 3 de março de 2012

Quaresma e o Pecado nos Crentes


Quaresma fala de conversão. Precisamos continuar lutando, pela Graça e com as armas da Graça, contra o pecado.
Existe pecado no crente?
João Wesley (século XVIII) escreveu um sermão sobre o Pecado no Crente. Wesley disse:

Há pecado naquele que está em Cristo? Permanece o pecado naquele que crê nele? Há qualquer pecado naquele que é nascido de Deus, ou está ele liberto do mesmo? Não pense alguém que isto seja apenas uma curiosidade ou que seja de pouca importância o decidirmos estar de um lado ou do outro. É do contrário um ponto de maior atualidade para todo cristão consciencioso, a solução daquilo que concerne a sua felicidade presente e futura.
Entretanto não sei se este ponto foi controvertido na Igreja Primitiva. Na verdade não havia razão para disputas sobre esse ponto, porque não havia divergência entre eles. Pois tanto quanto tenho observado, todos os cristãos antigos que nos deixaram qualquer coisa escrita declaram a uma voz que mesmo os crentes em Cristo enquanto não "são fortes no Senhor e na força do seu poder", precisam lutar "contra a carne e o sangue", contra a natureza má e mesmo contra "os principados e poderes"...
Uso indiferentemente as palavras regenerados, justificados e crentes visto que, embora não tenham precisamente o mesmo sentido, implicando a primeira numa mudança interna e atual, a segunda numa mudança relativa e a terceira nos meios pelos quais as outras duas se realizam, elas chegam ao mesmo objetivo, pois que todo aquele que crê é justificado e nascido de Deus.
Falo aqui do pecado interior; qualquer sentimento, paixão ou afeição pecaminosos, tais como o orgulho, a obstinação, o amor do mundo, de qualquer espécie ou grau, tais como, a cobiça, a ira e a queixa; qualquer disposição contra a mente que há em Cristo.
A questão não se refere ao pecado exterior, se um filho de Deus comete ou não pecado. Todos nós concordamos francamente no seguinte: "Todo o que comete pecado é do diabo", e "todo aquele que é nascido de Deus não comete pecado". Não inquirimos também se o pecado interior permanecerá sempre nos filhos de Deus, se o pecado continua na alma, enquanto ela está no corpo, nem se uma pessoa justificada pode cair no pecado exterior ou interior, mas simplesmente isto: "Fica um homem, justificado ou regenerado, liberto do pecado logo após a sua justificação? Não há então pecado no seu coração daí em diante, a menos que caia da graça"?...
Há em toda pessoa, mesmo depois da sua justificação, dois princípios contrários: natureza e a graça, chamados por S. Paulo a carne e o espírito. Daí o serem mesmo as crianças santificadas em
Cristo, embora o sejam apenas em parte. Até certo ponto, segundo a medida da sua fé, elas são espirituais, embora o sejam carnais num certo limite. De modo que os crentes são exortados continuamente a que estejam vigilantes contra a carne, o mundo e o diabo. A experiência constante dos filhos de Deus comprova isto. Enquanto sentem o testemunho em si mesmos sabem que a sua vontade não está totalmente submissa à vontade de Deus. Sabem que estão nele, mas o seu coração está pronto a desertar; tem uma tendência para o mal em muitos dos seus aspectos e a voltar as costas ao bem. A doutrina contrária é totalmente nova; a Igreja de Cristo nunca ouviu a respeito dela, desde a vinda do Mestre ao mundo, até o tempo do Conde Zinzendorf, e é responsável pelas conseqüências mais fatais. Ela elimina a nossa vigilância contra a nossa natureza má e contra a Dalila que ainda reside no nosso íntimo, embora os partidários dessa doutrina digam que ela já se foi. Ela destrói o escudo dos crentes fracos, priva-os da sua fé e, dessa maneira, deixa-os expostos aos assaltos do mundo, da carne e do diabo.
Mantenhamos, pois, a sã doutrina "uma vez dada aos santos" e por eles transmitida aos outros por meio da palavra escrita: "embora sejamos renovados, lavados, purificados e santificados no momento em que verdadeiramente cremos em Cristo, não somos totalmente, pois, a carne e a natureza má, embora vencidas, ainda continuam e guerreiam contra o espírito". Usemos, portanto, toda diligência "combatendo a boa peleja da fé". "Vigiemos e oremos", portanto, o mais possível, contra os inimigos internos. Façamos todo esforço por "tomarmos e vestirmos toda a armadura de Deus", de maneira que, embora "lutemos contra a carne e o sangue, contra os principados e os poderes, contra os espíritos ímpios nas alturas, possamos vencer no dia mau, e, tendo feito tudo, ficar firmes".
Sermões: "O Pecado nos Crentes.