quarta-feira, 21 de março de 2012

Mensagem de Pedro Crisólogo para a Quaresma

Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, 
Sermão 53; PL 52, 375; CCL 241, 498 






«Os que estão nos túmulos hão-de ouvir a Sua voz»: «Lázaro, vem cá para fora!» (Jo 11,43)


O Senhor tinha ressuscitado a filha de Jairo mas, numa altura em que o cadáver ainda estava quente, a morte ainda só tinha feito metade da sua obra (cf. Mt 9,18ss). [...] Ressuscitou também o filho único duma mãe, mas detendo a padiola antes de esta chegar à tumba [...], antes que esse morto entrasse completamente na lei da morte (cf. Lc 7,11s). Mas o que se passa com Lázaro é único [...]: Lázaro, em quem todo o poder da morte já se tinha concretizado e em quem resplandeceu igualmente a imagem completa da ressurreição. [...] Com efeito, Cristo ressuscitou ao terceiro dia porque era o Senhor; Lázaro, que era servo, foi chamado à vida ao quarto dia. [...]


O Senhor dizia e repetia aos Seus discípulos: «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos-sacerdotes e aos doutores da Lei, que O vão condenar à morte. Hão-de entregá-Lo aos pagãos, que O vão escarnecer, açoitar e crucificar» (Mt 20,18ss). E, dizendo isto, via-os indecisos, tristes, inconsoláveis. Ele sabia que eles tinham de ficar subjugados ao peso da Paixão, até que nada das suas vidas subsistisse, nada da sua fé, nada da sua luz pessoal, mas que, pelo contrário, os seus corações ficariam obscurecidos pela noite quase total da falta de fé. Foi por isso que fez com que a morte de Lázaro se prolongasse por quatro dias. [...] Daí que o Senhor tenha dito aos Seus discípulos: «Lázaro morreu; e Eu, por amor de vós, estou contente por não ter estado lá» (Jo 11,14-15) [...] «para, assim, poderdes crer». A morte de Lázaro foi, portanto, necessária, para que, com Lázaro, a fé dos Seus discípulos também se elevasse da tumba.

«Por não ter estado lá». E haveria algum lugar onde Cristo não estivesse? [...] Cristo Deus estava lá, meus irmãos, mas Cristo homem não estava. Quando Lázaro morreu, Cristo Deus estava lá, mas, agora, Cristo vinha para junto do morto, uma vez que Cristo Senhor ia entrar na morte: «É na morte, no túmulo, nos infernos, é aí que todo o poder da morte tem de ser abatido, por Mim e pela Minha morte».

segunda-feira, 19 de março de 2012

Como vivem os Beneditinos?

Ordem Beneditina 

O termo monge, no latim monachustem sua origem no termo grego monós, (que significa um, um só), um só não no sentido de único, solitário, sozinho, isolado, mas um só no sentido de uno, completo, todo, inteiro, sem divisão. O monge é, pois, aquele que está em busca da sua unidade essencial e existencial, que procura esta unidade fundamental do seu ser em Deus, consigo mesmo, com os demais seres humanos e com o cosmos. O monge alcança a sua unidade sendo um só, com Deus; um só com a humanidade; e um só, com a criação.
Nesse contexto, o monaquismo beneditino reconhece como ponto fundamental, sentido da sua existência e sua razão de ser, a busca de Deus (“si revera Deum querit” = se busca verdadeiramente a Deus, Regra de São Bento 64). Busca de Deus que, no âmbito da Revelação Cristã, identifica-se com o conhecimento de Cristo, conhecimento este que, por sua vez, está necessariamente relacionado com o seguimento de Jesus. Logo, buscar verdadeiramente a Deus é conhecer a Cristo e conhecer verdadeiramente a Cristo é segui-lo, tornar-se seu discípulo e amigo.
 A autenticidade da vocação do candidato a monge é reconhecida “se, na verdade, ele procura a Deus”. Essa terminologia de origem bíblica foi sempre mantida no monaquismo. Ela é hoje carregada de novas riquezas e cheia de imensa impregnação intelectual e humana. Tal vocabulário pode aplicar-se compropriedade ao que os antigos monges chamavam de busca de Deus(Quaesitio Dei).
O projeto que inspira a vida monástica obedece, pois, a certo ideal e a uma esperança. Na vida beneditina, este ideal de “buscar verdadeiramente a Deus” e “nada antepor ao amor de Cristo” se estrutura sobre três pilares: a oração (ora), o estudo (legere) e o trabalho (et labora). Estas são as colunas que sustentam a sólida  edificação da vida monástica beneditina como sendo uma Escola do Serviço do Senhor, “Schola Dominici Servitii”  (Prólogo da Regra de São Bento, 45).

  "ORA EL LABORA"
A liturgia 
Na tradição beneditina, os momentos de oração em comum são caracterizados pela celebração da liturgia: a recitação do Ofício Divino, ou Liturgia das Horas, e a participação no Culto. O zelo pela oração em comum fez com que os mosteiros fossem conhecidos pela liturgia bem celebrada.  A solenidade das celebrações, sua justa sobriedade e a tradicional pontualidade atraem um grande número de pessoas aos mosteiros.


 O trabalho
Como era o desejo de Bento, os monges deveriam encontrar no Mosteiro o seu sustento, de tal maneira que evitassem a saída habitual dos claustros monásticos. O necessário resguardo do coração é observado por meio de algumas medidas concretas, como a reserva em mudar-se de mosteiro ou sair sem motivos plausíveis de seu ambiente de recolhimento e oração. Por isso, suas atividades são normalmente realizadas no âmbito do próprio mosteiro.


Os trabalhos realizados podem variar de acordo com as condições do lugar ou do momento. Pode-se dizer que, ao longo da história, os monges beneditinos desempenharam uma gama bastante vasta de tarefas, desde os trabalhos, assim chamados, mais humildes, como a limpeza dos recintos e o cultivo da terra, como os administrativos e intelectuais. Na maioria das vezes, cada monge desempenha diversas atividades no mosteiro.



  O processo formativo e os votos monásticos
Antes de um candidato ingressar no mosteiro, ele passa por um processo de acompanhamento vocacional. O objetivo é discernir sua vocação religiosa, especificamente a monástica. Não basta saber sobre a autenticidade de sua vocação, o candidato deve estar preparado para seguir o espírito e o ritmo de vida no mosteiro, desde o primeiro dia em que entrar. A vida do homem contemporâneo muitas vezes não favorece uma vivência desimpedida da vida monástica. Por isso, o espírito do vocacionado deve estar ao menos preparado para vencer em si a tendência à dissipação. E como assegura São Bento, a perseverança nos clautros do mosteiro produz muitos frutos de santidade e vida eterna, para si e para toda Igreja.
Quando o candidato entra no mosteiro, ele se torna postulante. Participa da vida corrente do noviciado e da disciplina comum de todos os monges. No período de seis meses, ele aprende os rudimentos da vida monástica no seio da comunidade dos monges e conhece mais de perto as exigências a que ele é chamado.
Ao término desse período, ele pode ser admitido ao noviciado. Tempo especial de aprendizado de si e da vida monástica. O noviço tem a oportunidade de conhecer melhor as tradições monástica e cristã. Para isso, ele freqüenta aulas de Sagradas Escrituras, Patrística, História da Vida Monástica, Regra de São Bento, entre outras aulas, como o idioma latino.
Esse é um período muito intenso de formação. Sua duração é de dois anos. No segundo ano, o Irmão pode iniciar seus estudos acadêmicos, como a filosofia e a teologia, sobretudo àqueles que aspiram à ordenação sacerdotal.
Terminado o noviciado, o Irmão pode professar por três anos os votos monásticos: conversão dos costumes, obediência e estabilidade no mosteiro. O primeiro voto diz respeito às exigências da vida monástica em geral. O segundo voto predispõe à vida em comunidade, por meio da obediência prestada aos superiores e aos Irmãos, buscando principalmente o que é melhor para os outros e não para si mesmo. Por fim, o terceiro voto vincula o monge ao seu mosteiro de origem, lá ele deve progredir na vida monástica, sem que o seu coração se iluda em procurar melhores oportunidades em outros lugares.
 Depois de três anos, o Irmão pode deixar o mosteiro sem qualquer vínculo ou optar por consagrar-se definitivamente à vida monástica. O professo solene, como é chamado após sua última profissão, goza de voz ativa nas principais decisões da comunidade, como a votação do Abade. Ele está vinculado permanentemente à vida da comunidade, como a uma família. Assim é expressa a esperança de São Bento, de que Cristo "nos conduza juntos à vida eterna!" (RB 72,12).


A disciplina
São Bento não escreveu uma regra que primasse pelo rigor ascético nas observâncias cotidianas. Antes de tudo, o monge chega ao cume das virtudes e da contemplação de Deus por meio de uma vida de sobriedade e humildade. Deus se revela às almas simples que o procuram na sinceridade e generosidade do coração.
Com isso, São Bento diferia do espírito de seu tempo. Um número maior de pessoas podiam ingressar na vida monástica. Seu objetivo era que no mosteiro os fortes encontrassem o que desejam e que os fracos não fujam. Orienta os monges com habitual docilidade: "Se aparecer alguma coisa um pouco mais rigorosa, ditada por motivo de eqüidade, para emenda dos vícios ou conservação da caridade, não fujas logo, tomado de pavor, do caminho da salvação, que nunca se abre, senão por estreito início." (RB Prol,47s)
A disciplina da vida comunitária é marcada sobretudo pelos momentos em que os monges se reúnem para a oração comum – a liturgia monástica – e para as refeições.
Outros costumes compreendem a vida no mosteiro, como o silêncio nos lugares regulares, dentre os quais o refeitório, e após o último Ofício do dia, as Completas.
O dia se divide da seguinte forma: acordamos às 5h da manhã; 5h30, Ofício de Laudes; 6h15, Meditação; 7h, Santa Missa; 11h45, Ofício da Hora Meridiana; 12h, almoço; 17h25, Ofício de Vésperas; 18h, jantar, seguido de um momento de confraternização entre os monges; 19h, Ofícios de Vigílias e Completas; o silêncio monástico é observado até a Missa do dia seguinte.



A hierarquia
O regimento interno de um mosteiro beneditino é muito simples. Pode-se resumi-lo na organização de uma vida em comunidade sob uma Regra e um Abade. A pessoa do Abade faz às vezes do pai espiritual e do superior na comunidade. São Bento lhe reserva dois capítulos da Regra. O Abade deve saber do difícil encargo que recebeu: servir aos temperamentos de muitos, moderar entre o pio afeto de um pai e o rigor de um mestre e, sobretudo, procurar antes ser amado do que temido.
 O cargo de Abade é vitalício, à semelhança do bispo diocesano: após os 75 anos, ele resigna, e é eleito outro Abade por voto direto dos integrantes da comunidade. A Igreja lhe confere ainda a dignidade prelatícia.
Duas outras funções importantes na comunidade são a do Prior e a do Subprior. Os demais monges seguem a ordem monástica segundo a data de ingresso no mosteiro.
Em todos os casos, São Bento prescreve a obediência aos superiores e recomenda a obediência mútua, de tal modo que os mais novos respeitem os mais velhos e os mais velhos amem os mais novos. Segundo o espírito da vida beneditina, os monges devem se rivalizar na solicitude mútua, nada fazendo do que julgam melhor para si, mas para outro. Nesse espírito os monges cumprem em todas as circunstâncias a máxima "para que em tudo seja Deus glorificado".
"Suscipe me, Domine, secundum eloquium tuum e ne confundas me ab exspectatione mea" (Recebei-me, Senhor, segundo a vossa palavra e viverei; e não serei confundido em minha esperança, (Sl. 118,116)) (RB 58,21)
       "Apresentando-se alguém para a vida monástica, não se lhe conceda fácil ingresso, mas, como diz o Apóstolo: 'Provai os espíritos, se são de Deus'. Portanto, se aquele que vem, perseverar batendo à porta e se depois de quatro ou cinco dias, sendo-lhe feitas injúrias e dificuldade para entrar, parece suportar pacientemente e persistir no seu pedido, conceda-lhe o ingresso, e permaneça alguns dias na cela dos hóspedes (...).
        (...) E se, tendo deliberado consigo mesmo, prometer guardar todas as coisas e observar tudo quanto lhe for ordenado, seja então recebido na comunidade, sabendo estar estabelecido pela lei da Regra, que a partir daquele dia não lhe é mais lícito sair do mosteiro, nem retirar o pescoço ao jugo da Regra, a qual lhe foi permitido recusar ou aceitar por tão demorada deliberação" (RB 58, 1 e ss.)

Na simplicidade e no despojamento do mosteiro. as beneditinas encontram o ambiente favorável a uma vida de oração intensa, de uma ascese ao mesmo tempo profunda e discreta e de uma caridade fraterna que transborda da vida comunitária para todas as pessoas que ali buscam os vestígios de Deus. 
Na conversão continua aos ensinamentos do Evangelho, vão progressivamente purificando a sua vida e dilatando os espaços de sua caridade para que possam abraçar todas as dores e os sofrimentos de seus irmãos em humanidade e ao mesmo tempo ampliando a sua ternura para com toda a natureza criada, desde as flores aos rochedos, desde os vermezinhos da terra até às paisagens formidáveis que o mar oferece.
Limitados fisicamente pela clausura monástica, os espaços das monjas abrem-se para toda a extensão da História e para o infinito de Deus que “tudo abarca em seu poder”.
Todos os que têm sede de infinito e fome de justiça e de amor podem encontrar no Mosteiro.

A Vida das Beneditinas

Nós, beneditinas, buscamos a Deus por meio da vida comunitária, da oração e do trabalho, que vivemos com entusiasmo e fervor. Não fugimos do mundo, nem o odiamos, mas dele nos afastamos para seguir a Cristo num relativo deserto, como lugar de encontro conosco mesmas e com Deus.
Colocando-nos a certa distância da sociedade, livres de suas convenções e imposições, a monja adere ao Cristo, assumindo uma caminhada em busca da sabedoria de uma tradição transmitida por uma mãe espiritual e uma comunidade. Essa caminhada conduz a monja, pela graça, a um aprofundamento da sua consciência e da sua percepção, até chegar a uma experiência de despojamento, humildade, paz, serviço, alegria e liberdade.
Nós recebemos de São Bento, através de uma longa tradição, uma REGRA DE VIDA, que chamamos de “Santa Regra” pelo seu venerável valor. Esta, a partir do Evangelho, organiza o Mosteiro particularmente em suas quatro atividades principais: oração, trabalho, estudo e convivência fraterna.
Para nós, existe uma palavra muito importante: PAZ!   No Mosteiro tudo é disposto para que as pessoas vivam com uma grande tranqüilidade e uma grande paz. Uma vida na paz pede que haja muito respeito entre as pessoas, muita verdade e justiça nas relações, uma grande capacidade de dar e receber perdão e até mesmo uma cortesia no trato mútuo. A caridade vai progressivamente fazendo das monjas pessoas atenciosas e delicadas para com os outros. Até mesmo para com os objetos, as plantas e a própria terra.Diz a RB: “Todos os móveis e utensílios do mosteiro devem ser tratados como vasos sagrados do altar”; “Que ninguém se perturbe nem se entristeça na casa de Deus.”(Regra de São Bento 31,19)
O estilo de vida monástico é vivido em muitas culturas e em muitas religiões. Há pessoas que, mesmo não tendo uma intenção religiosa, escolhem aspectos deste estilo de vida: artistas plásticas, cientistas, poetas, pesquisadoras.  Assim livres, podem realizar melhor as atividades que dão sentido à sua vida.
A formação monástica  prepara as pessoas que entram para o Mosteiro para viverem de acordo com sua opção de vida. Através de aulas, leituras, da convivência numa vida simples e pobre, e do acompanhamento pessoal, as monjas vão corrigindo seus próprios rumos e crescendo na caridade. Normalmente a formação é feita no próprio mosteiro. Isso não exclui a possibilidade de freqüentarem cursos teóricos ou profissionalizantes, relacionados à teologia, ao monaquismo ou necessários à administração do Mosteiro e ainda ao trabalho de subsistência.

Quais são as etapas da formação?

   A adesão à vida beneditina se processa nas seguintes etapas:
Postulantado - para quem já tomou uma decisão inicial. É um período de um ano a dezoito meses no qual a candidata aprofunda seu discernimento e opção, já reside no Mosteiro e participa de sua vida e de momentos de formação adaptados.



Noviciado - Persistindo uma mais firme decisão de continuar a caminhada de formação a candidata ingressa no primeiro período oficial de formação, começando a participação como um membro da comunidade e a assumir maiores responsabilidades em relação à liturgia e à vida de trabalho da mosteiro. Intensifica-se o conhecimento e a prática da vida beneditina.

Votos temporários  - Estando a noviça bem segura de sua vocação e tendo a comunidade julgado que assim é, a noviça pode pedir para fazer a profissão monástica, comprometendo-se por voto à obediência monástica, à conversão de seus costumes de acordo com a forma monástica de viver e a permanecer de forma estável no mosteiro no qual ingressa.
Esse período, de acordo com as leis da Igreja, dura no mínimo três anos. Após este período, transcorrido felizmente, a jovem professa pode ser recebida para a fazer os Votos perpétuos.


Votos perpétuos - A professa temporária faz a sua profissão definitiva, ligando-se por votos perpétuos ao mosteiro que a acolheu. Com a profissão perpétua a irmã assume todos os direitos e todos os deveres de uma monja beneditina, ligando-se para toda a vida ao mosteiro onde nasceu e cresceu para a vida monástica.

Quem pode entrar para o mosteiro?
  • Pessoas jovens ou adultas que tenham maturidade para a escolhe desse estilo de vida.
  • Assistidas por uma monja, por uma orientadora ou orientador espiritual, vão discernir se o seu desejo corresponde à graça da vocação que é dada por Deus.
  • A Regra de São Bento indica três sinais muito objetivos e claros da existência da vocação. Esses sinais podem tornar-se bem mais perceptíveis com o tempo de convivência com o ou no Mosteiro.

A Hospitalidade 


A Hospitalidade é um dos elementos característicos  da nossa espiritualidade Beneditina .Nossa Regra de vida,no cap. 53, estabelece que “Todos os hóspedes que chegam ao Mosteiro sejam recebidos como se fossem o Cristo em pessoa. Desta visão teológica deriva o modo de acolher os hóspedes “com toda a humanidade”.
Até que terminemos a construção do projeto completo do mosteiro temos somente uma pequena hospedaria para acolhimento das pessoas que desejarem um maior encontro com Deus e consigo mesmas, por meio da oração, do silêncio, da solidão, numa área rural magnífica.
As pessoas interessadas em fazer retiro, sós ou em pequeno grupo devem comunicar-se conosco para agendar. 

A hospitalidade representou sempre a forma mais autêntica do apostolado beneditino. O encontro humano, se for profundo, é uma troca de bênçãos. Quando acolhem o hóspede, as monjas se tornam hóspedes de Deus e o hóspede que retorna  ao seu ambiente leva consigo o transbordamento do mosteiro e da experiência de Deus aqui vivida.


Por favor: Leia o texto na íntegra no seu site de origem: http://mosteirinho.webs.com/beneditinos.htm

domingo, 18 de março de 2012

Um Mosteiro Evangélico na Itália

 
Mosteiro Evangélico de Bose - Itália
 Foi a necessidade de viver de um modo radical o desejo e a espera da promessa do reino, a conduzir o fundador da Comunidade, Ir. Enzo, então estudante universitário, em Turim, a reunir de maneira regular, a partir de 1963, no seu apartamento da via Piave, 8, um pequeno grupo de jovens católicos, valdeses e baptistas. Assim, começaram por ler juntos, semanalmente, as escrituras, a encontrar-se todas as noites para a liturgia das horas e a dividir, como grupo ligado à domus da Pro Civitate Christiana, a celebração eucarística doméstica, na consciência de que apenas fazendo-se pobres e pequenos, na escuta e na partilha, seria possível serem o "pequeno rebanho" destinatário das promessas do Senhor. 
Foi neste contexto, que, para algns membros, se amadureceu e se concretizou uma vocação comunitária, no celibato. Ir. Enzo, decidiu então,  procurar um lugar de encontro, fora da cidade, isolado, que pudesse ser uma referência para todos e em que fosse possível iniciar uma vida fraterna. Escolhida e alugada uma casa em Bose, fracção do Município de Magnano, na serra morena entre Ivrea e Biella, o grupo de amigos de via Piave organizou um campo de trabalho para restituir dignidade à belíssima Igreja românica de San Secondo, situada a poucas centenas de metros do lugar de Bose.   

 Foi a última actividade conjunta do grupo de Turim: quando Ir. Enzo decidiu estabelecer-se naquela pobre casa de Bose (Bose era então uma localidade muito isolada e sem electricidade, aquecimento e água) permaneceu só. Um ou outro, daquele grupo de via Piave, continuará a visitá-lo e novos rostos se aproximarão para procurar uma vida isolada e um lugar de oração. De facto, desde a sua transferência para Bose, que aconteceu no dia 8 de Dezembro de 1965, dia de encerramento do Concílio Vaticano II, Ir. Enzo viveu praticamente três anos de absoluta e profunda solidão. Anos preciosos, dedicados, por um lado à oração e ao acolhimento de quem por ali passava para um momento de silêncio e de escuta da Palavra de Deus, e por outro ao aprofundamento da própria vocação, fosse através de estadias em mosteiros católicos (Trapistas de Tamié), ortodoxos (monte Athos) e reformados (Taizé - comunidade, então, formada, sobretudo, por membros de Igrejas Reformadas), fosse graças às conversas e amizades com figuras de grande elevação espiritual, como o Pe. Michele Pellegrino, arcebispo de Turim, e o inesquecível Patriarca de Constantinopla, Athenágoras. Ao peso da solidão junta-se a incompreensão do bispo local, que a 17 de Novembro de 1967 proíbe qualquer celebração litúrgica pública em Bose, devido à presença frequente de não católicos, entre os hóspedes.
 A esta medida, assim como persistente solidão, fez-se plena obediência, apesar do sofrimento, na convicção de que aquela semente tinha sentido, apenas se crescesse com a Igreja. Será o Pe. Pellegrino quem fará remover a interdição, vindo até Magnano a 29 de Junho de 1968, para um encontro sobre o "O Primado de Pedro" e celebrando a eucaristia com todos os que que ali se encontravam.
Poucos meses depois, em Outtubro de 1968, terminava a longa vigília: dois jovens católicos (Domenico Ciardi e Maritè Calloni) e um pastor reformado suiço (Daniel Attinger) decidiram juntar-se ao Ir. Enzo e iniciar uma vida comunitária, juntos com uma Irmã da comunidade reformada de Grandchamp, a pedido do Ir. Enzo à Prioressa da Comunidade, Ir. Minke De Vries.
Escrevia no dia 1 de Janeiro de 1970 o Pe. Ernesto Balducci, no seu Diario dell’esodo (Diário do Êxodo):
"Numa colina, próximo de Biella, un grupo de cristãos de diversas confissões, ocupou, desde há 2 anos, umas casas deixadas vazias por alguns habitantes que emigraram para a cidade. São casas, por força de expressão: o vento sopra por entre as fissuras e a neblina que as envolve parece que as leva. Não têm sequer energia eléctrica. Têm, paradoxalmente, a fé destes amigos que se propôem preparar, em absoluta pobreza, o cristianismo de amanhã."  

O Dia a Dia no Mosteiro Evangélico de Bose
Para viver concretamente a primazia da Palavra de Deus, cada irmão e irmã é convidado a despertar às 4.30h para dedicar, pelo menos uma hora à lectio divina pessoal sobre um texto das Escrituras, decidido comunitariamente, para vincar a importância da Palavra como única e verdadeira fonte de comunhão.
Ás 6.00h segue-se o primeiro dos três momentos deoração comunitária cantada do dia - o Ofício da manhã; Este Ofício é estruturado, como grande parte da liturgia de Bose, segundo a tradição latina, isto é, com um hino, uma salmodia (todo o Saltério é cantado em duas semanas), a leitura da Escritura, a intercessão e a oração; é lido um texto do Antigo Testamento (que se lê, por inteiro, em 3 anos) e um texto do Evangelho (os quatro Evangelhos são proclamados em 1 ano).
Depois da oração da manhã, segue-se das 6.45h às 7.00h o breve Capítulo Diário, aberto com a leitura seguida das diversas Regras Monásticas da antiguidade, incluindo também a Regra de Bose. Esta é a oportunidade para o exercício da correcção fraterna, para a troca de informações sobre o dia e sobre o acolhimento.
Das 7.00h às 8.00h é uma hora de silêncio para aoração pessoal de cada um e leituras espirituais.
Ás 8.00h um toque triplo dos sinos assinala o fim do grande silêncio (iniciado às 20.00h da noite precedente, igualmente com um toque triplo dos sinos) e o início do dia de trabalho.
Das 8.00h às 12.00h cada um desenvolve o seu trabalho profissional, e às 12.30h encontram-se na Igreja para a segunda Oração comunitária do dia - o Ofício do meio-dia.  Neste Ofício, depois da salmodia, é proclamado um versículo do Evangelho do dia, fruto da constante memoria Dei que deveria acompanhar cada momento da vida do monge, seguida de uma leitura breve dos Padres da Igreja ou de autores espirituais mais recentes.
No fim do Ofício, segundo uma tradição, quer do Ocidente quer do Oriente cristão, segue-se imediatamenteo almoço. Este desenvolve-se num ambiente de diálogo e de troca de ideias muito fraterno. Para favorecer e facilitar uma comunicação autêntica e partilhada não existe um único refeitório para a comunidade e para os hóspedes, mas diversas salas de pequena e média dimensão onde os Irmãos, com os hóspedes, procuram manter uma conversação única que favoreça a participação e a escuta de todos.
Ás 14.00h recomeça o trabalho, que se prolonga até ás 17.00h, quando um triplo toque dos sinos assinala o início de uma outro hora em silêncio para a leitura e oração ou para trabalhos de limpeza e manutenção da cela.
Ás 18.30h começa a última oração comunitária do dia - o Ofício da tarde.  Neste Ofício, depois da Salmodia, são proclamadas os textos dos Apóstolos (lidos, na íntegra, em 1 ano).  
Segue-se o jantar, em silêncio, ouvindo música clássica; uma ocasião acrescida para reflectir sobre as leituras escutadas durante o dia. 
Ás 20.00h, por fim, inicia-se o grande silêncio e cada um recolhe à sua cela para uma meditação pessoal, a recitação das completas e para descansar.


sábado, 17 de março de 2012

Quaresma e a Serpente do Deserto



Evangelho Comentado
Jo 3.14-21.
3º Domingo da Quaresma - Ano B

            O texto lido no quarto domingo da quaresma fala diretamente da salvação de Deus mediante a morte do Senhor Jesus no Calvário. É um texto que faz relação entre a serpente de bronze que foi levantada no deserto e o Senhor Jesus levantado na Cruz do calvário. Este texto deixa uma pergunta: O que farei diante do sacrifício de Jesus por mim? Observe os ensinamentos do evangelho de João 3.14-21.

I. A Serpente de Bronze que Moisés levantou no deserto.
            João 3.14 diz:   E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado.
            Leia Números 21.4-9. O Povo de Israel estava caminhando no deserto. Rodeavam a terra de Edom. Nesta difícil caminhada, o povo começou a ficar impaciente com Moisés e com Deus. A impaciência fez o povo murmurar contra Deus e contra Moisés. O povo começou a dizer: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil. Esta murmuração resultou no castigo de Deus que enviou serpentes abrasadoras, que mordiam o povo e muitos morreram.
            No desespero, o povo confessa o pecado e pede livramento. A solução de Deus foi mandar Moisés fazer uma serpente abrasadora, colocá-la numa haste, e todo mordido que olhasse para a haste não morria. Era milagrosamente curado.
            Não deveriam olhar para Moisés, nem olhar para a serpente no chão, nem para a mordedura. Deveriam olhar para a Serpente de Bronze que estava na haste.
            Nossa visão também não deve estar no homem, no diabo nem no problema. Nossa visão precisa estar em Cristo.
            
II. O Filho do homem levantado
            João 3.14 diz: E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado,
            A Serpente de Bronze foi levantada para ser cura para o povo mordido pelas serpentes.
            Jesus foi levantado na Cruz do Calvário para ser cura para o ser humano mordido pelo pecado original, mediante a atuação da serpente no Jardim do Edem.
            O pecado original é uma infecção que nós herdamos naturalmente de Adão. Sobre o pecado original Wesley diz: "Esta infecção da nossa natureza (chamai-a de pecado original ou como quiserdes) dá origem a muitos, senão a todos, os pecados atuais" (Obras: "A doutrina do pecado original").
            A solução para o pecado original e sua conseqüência (infecção), é Jesus crucificado no madeiro. A Morte de Jesus foi a solução de Deus para o veneno da serpente na natureza humana. Nossa vitória está na crucificação do Senhor. E nossa glória em sua ressurreição.
           
III. Quem tem vida eterna?
            João 3.15 diz: para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.
            A vida eterna está em Cristo. Quem tem o Filho tem a vida de Deus. I João 5.11, 12 diz: "E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida."
            Quem crê em Jesus Cristo e o recebe pela fé em seu coração, esse tem a vida eterna. A fé em Jesus Cristo, quando é verdadeira, muda toda a vida. A pessoa é transformada pela graça e santificada em todas as suas atitudes. Por isso quem crê em Jesus tem a Vida eterna.
            Você já tem a vida eterna?
           
IV. O Amor de Deus pelo Mundo
            João diz em 3.16:   "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".
            A crucificação de Jesus é o ápice do amor de Deus pela humanidade. É o seu maior gesto de amor. Leia Rm 5.5-8.
            "Se então os pecadores encontram favor de Deus é "por graça sobre graça!" Se Deus ainda condescende em derramar bênçãos sobre nós, sendo a salvação a maior delas, que podemos dizer a respeito dessas coisas senão: "Graças a Deus por seu dom indizível!"  Deste modo "Deus ordena seu amor para conosco em que sendo nós ainda pecadores, Cristo morreu" para salvar-nos. "Sois salvos pela graça através da fé." A graça é a fonte e a fé a condição da salvação" (João Wesley: Sermões: "Salvação pela fé",).
            
V. A Missão do Filho e a Nossa decisão.
            João 3.17 diz:  Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
            A Missão de Jesus vindo ao mundo foi Salvar o mundo. Um dia o Senhor voltará como Rei e Juiz. Mas a encarnação de Cristo foi unicamente para a salvação da humanidade. Esta foi a sua missão.
            Jesus veio salvar, mas a decisão pela salvação é nossa: João 3.18 diz: "Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus".
        
VII. O Julgamento final
            Haverá um julgamento final. João 3.19 diz: O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. 20   Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. 21   Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.
            As pessoas serão julgadas, sobre tudo, por não aceitarem a luz de Deus, o Senhor Jesus. Parece algo tão fácil e simples que é ignorado. A luz é ignorada. Mas as pessoas que aceitam o sacrifício de Cristo na cruz, o grande dom de Deus, a salvação e se arrependem de seus pecados, são salvas e livres do julgamento.

            A quaresma tem esta mensagem. Jesus é o amor de Deus encarnado que foi oferecido por nós na cruz. Preciso crer neste dom de Deus, me arrepender dos pecados e viver na luz do seu amor. Ou eu me afasto do pecado ou o pecado me afastará de Deus.
           

terça-feira, 13 de março de 2012

Quaresma e Perdão


A Quaresma fala de Perdão.
Este foi o ensinamento de Jesus, inclusive na Cruz do calvário.
É impossível um cristianismo sem o perdão.


Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra, em seu Sermão para a Sexta-Feira Santa, 25/03/1622, pronunciou as seguintes palavras:

A primeira palavra que Nosso Senhor pronunciou sobre a cruz foi uma oração por quem O crucificava, fazendo o que diz este texto de São Paulo «Nos dias da Sua vida terrena, apresentou orações e súplicas» (Heb 5,7). Certamente que aqueles que crucificaram o Nosso divino Salvador não O conheciam [...], porque se O tivessem conhecido não O teriam crucificado (1Co 2,8). Por conseguinte, Nosso Senhor, vendo a ignorância e a fraqueza daqueles que O torturavam, começou a desculpá-los e ofereceu por eles esse sacrifício ao Seu Pai Celeste, porque a oração é um sacrifício [...]: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.» (Lc 23,34). Tão grande era a chama de amor que ardia no coração do nosso manso Salvador, que na mais suprema das Suas dores, no momento onde a intensidade dos tormentos parecia impedi-Lo de rezar por Si, pela força do Seu amor, esquece-Se de Si próprio, mas não das Suas criaturas. [...]


Com isso desejava que compreendêssemos que o amor que nos tem não pode ser enfraquecido por nenhum tipo de sofrimento, e ensinar-nos qual o dever do nosso coração para com o nosso próximo. [...]

domingo, 11 de março de 2012

Patrício: O Monge Evangélico

Patrício nasceu 387-390 dC Foi escravizado por salteadores irlandeses, aos 16 anos (403-406 AD). Lá na Irlanda ele aceitou Jesus como Senhor e Salvador e se transformou num cristão fervoroso.
Escapou da Irlanda, seis anos depois e voltou à Grã-Bretanha aos 22 anos. (409-412 AD). Depois deixou sua casa para estudar para o sacerdócio nos mosteiros de Lérins e Auxerre , ambos localizados na Gália ( França ).  
Neste período, havia poucos mosteiros na Europa Ocidental, ainda era um movimento relativamente novo lá.  Martin de Tours havia recentemente fundado um mosteiro na Gália em Liguge em 361 dC
Voltou para a Irlanda como um bispo missionário com 42 anos, cerca de 432 AD.
Fundou vários mosteiros onde pessoas casadas podiam ser Monges. Hoje Patrício é estudado por Monges protestantes e dito como um Monge evangélico.
Homem de Deus. Morreu em 17 de março, 461-464 AD.

Conversão de João de Deus

No dia 08 de março é comemorado o Dia de João de Deus.
João nasceu em Évora, Portugal, em 1495; com oito anos fugiu de casa e foi para a Espanha, onde fez obras e vivenciou inúmeras aventuras. Começou João suas histórias, cuidando do rebanho, depois com os estudos tornou-se administrador, mas encantado pelo militarismo, tornou-se soldado e combateu na célebre batalha de Pávia, onde saiu vitorioso ao lado de Carlos V.

Certa vez foi morar em Granada e lá abriu um pequeno negócio de livros, sendo que, ao mesmo tempo, passou a ouvir o grande pregador João de Ávila, que no Espírito Santo suscitou a conversão radical de João.
João se converteu por ouvir a pregação da Palavra do Senhor. Aceitou Jesus como Senhor e Salvador e passou a viver a radicalidade do Evangelho de Cristo. Do encontro com Cristo, começou sua maior aventura, que consistiu em construir com Cristo uma história de santidade.

Renunciou a si mesmo, assumiu a cruz e se colocou radicalmente nos caminhos de Jesus, quando no distribuir os bens aos pobres, e acabou sendo lançado num hospital de loucos por parte dos conhecidos, já que João começava a ter inúmeras atitudes voluntariamente estranhas, que visavam não o manicômio, mas o arrependimento e a humilhação.
Sua família, por ver atitudes radicais da conversão a Cristo, achou que João estivesse louco.

Como tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, acabou sendo providencial o tempo que João passou sofrendo naquele hospital, pois diante do tratamento desumano que davam para os pobres e doentes mentais, o Senhor suscitou no coração de João o carisma para lidar com os doentes. Sua Missão foi socorrer os enfermos e e ver em cada enfermo o próprio Senhor Jesus..

Desta forma, João, experimentando a vida na Providência, passou a acolher numa casa alugada, indigentes e doentes, depois entregou-se ao cuidado exclusivo num hospital fundado por ele em Granada (Espanha) e assistido por um grupo de companheiros que, mais tarde, constituíram a Ordem Hospitalar de São João de Deus.
João faleceu no dia 08 de março de 1550 e deixou um Testemunho de homem convertido a Cristo na radicalidade do Evangelho.

Quaresma e a Renúncia




VENCER É PERDER

"Acumular" é verbo que queremos conjugar em todas as áreas da vida.
"Perder" é verbo que nos deprime.
Por isto, todos os conceitos, até os mais sublimes e mais sagrados, se tornam reféns da ideia de vitória como acréscimo.
Até mesmo o conceito de graça, central na fé cristã, pode sofrer deste vício. Receber a graça se tornou receber "graças", vale dizer, coisas e mais coisas, numa espiral sucessiva. Não admitimos que a graça possa implicar em perda.
Quando Jesus disse que, para segui-lo, precisamos tomar a nossa cruz, estava nos mostrando a necessidade da renúncia. Renunciar é perder.
Renunciar é abrir mão do poder que temos. Porque podemos nos ter tornado autoritários.
Renunciar é abrir mão das coisas que possuímos. Porque podemos estar seguros com elas.
Renunciar é abrir mão das ideias que esposamos. Porque podemos estar errados.
A cruz de Jesus não tem poder, senão o poder da fraqueza.
A cruz de Jesus é um convite à liberdade, que vem pela renúncia.

Texto de 
Israel Belo de Azevedo 

sábado, 10 de março de 2012

Quaresma fala da espera pela nossa própria ressurreição



Quaresma fala da espera pela nossa própria ressurreição

Orígenes (c.185-253), presbítero e teólogo em seu Comentário ao Evangelho de São João, escreveu:
Como é grande e difícil de entender o mistério da nossa própria ressurreição! Anunciado por muitos textos da Sagrada Escritura, aparece sobretudo em Ezequiel, [...] que diz: «A mão do Senhor desceu sobre mim; então, conduziu-me em espírito e colocou-me no meio de um vale que estava cheio de ossos [...] completamente ressequidos. O Senhor disse-me: «Filho de homem, estes ossos poderão voltar à vida?» Eu respondi: «Senhor Deus, só Tu o sabes.» Ele disse-me: «Profetiza sobre estes ossos e diz-lhes: Ossos ressequidos, ouvi a palavra do Senhor»» (Ez 37. 1-4). [...]

Que ossos serão esses, aos quais se diz «ouvi a palavra do Senhor» [...] senão o Corpo de Cristo, que o próprio Senhor refere, dizendo: «todos os Meus ossos se desconjuntaram» (Sl 22/21, 15)? [...] Tal como teve lugar a Ressurreição do corpo perfeito e verdadeiro de Cristo, assim nós, os Seus membros [...], seremos um dia reunidos osso a osso, articulação a articulação. Ninguém, privado desta junção, poderá chegar ao estado de «homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo» (Ef 4, 13). Assim, «todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo» (1Cor 12, 12).

Vem tudo isto a propósito do Templo, do qual o Senhor disse: «O zelo da Tua casa me devora» (Sl 69/68, 10); dos judeus que Lhe pediam um sinal; por último, da Sua própria resposta [...]: «Destruí este Templo, e em três dias o levantarei». É necessário banir deste templo, que é o Corpo de Cristo, tudo aquilo que a razão recusa e é ocasião de negócio, para que, no futuro, ele não venha a tornar-se morada de mercadores. É necessário igualmente [...] que, depois da sua destruição por aqueles que recusarem a Palavra de Deus, seja levantado ao terceiro dia [...]. Assim, graças à purificação levada a cabo por Jesus, tendo abandonado tudo o que era contrário à razão e todo o tipo de comércio por causa do zelo do Verbo, Palavra de Deus, presente neles, os Seus discípulos são destruídos para serem levantados por Jesus em três dias [...], uma vez que são precisos três dias inteiros para levar a cabo essa reconstrução.
Por isso podemos afirmar, por um lado, que a Ressurreição teve lugar mas, por outro, que ainda está para vir. Em verdade, «se estamos integrados n'Ele por uma morte idêntica à Sua, também o estaremos pela Sua Ressurreição» (Rm 6, 5) [...] e «assim, em Cristo, todos voltarão a receber a vida. Mas cada um na sua própria ordem: primeiro, Cristo; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da Sua vinda» (1Cor 15, 22-23).