O Dia da
Santíssima Trindade
Rev. Edson Cortasio Sardinha
No Domingo após o Dia de Pentecostes
celebramos o Dia da Santíssima Trindade. Com o Pentecostes termina o Ciclo
Pascal e olhando para trás vemos a Trindade presente no Ministério de Cristo.
“O mistério da Santíssima Trindade é
o mistério central da fé e da vida cristã. Deus se revelou como Pai, Filho e
Espírito Santo. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem nos revelou este mistério.
Ele falou do Pai, do Espírito Santo e d'Ele mesmo como Deus. Logo, não é uma
verdade inventada pela Igreja, mas revelada por Jesus. Não a podemos
compreender, porque o Mistério de Deus não cabe em nossa cabeça, mas é a
verdade revelada” (Filipe Aquino).
I.
A Trindade nos Pais da Igreja
Aos Catecúmenos de Constantinopla,
Gregório Nazianzeno (330-379), “o Teólogo”, explicava: “Antes de todas as
coisas, conservai-me este bem depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual
quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres:
refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio
hoje. É por ela que daqui a pouco vou mergulhar-vos na água e vos tirar dela.
Eu vo-la dou como companheira e dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só
Divindade e Poder, que existe Una nos Três, e que contém os Três de maneira
distinta. Divindade sem diferença de substância ou de natureza, sem grau
superior que eleve ou grau inferior que rebaixe [...]. A infinita
conaturalidade é de três infinitos. Cada um considerado em si mesmo é Deus todo
inteiro [...]. Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na
Unidade, e a Trindade me banha em Seu esplendor. Nem comecei a pensar na
Trindade, e a unidade toma conta de mim (Or. 40,41).
O primeiro Catecismo, chamado
"Didaqué", do ano 90 dizia: "No que diz respeito ao Batismo,
batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente. Se não
houver água corrente, batizai em outra água; se não puder batizar em água fria,
façais com água quente. Na falta de uma ou outra, derramai três vezes água
sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Didaqué
7,1-3).
Clemente de Roma, no ano 96,
ensinava: "Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça" (Carta aos
Coríntios 46,6). "Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Espírito
Santo" (Carta aos Coríntios 58,2).
Inácio, bispo de Antioquia (morto em
107), mártir em Roma, afirmava: "Vós sois as pedras do templo do Pai,
elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a sua cruz, com o
Espírito Santo como corda" (Carta aos Efésios 9,1).
"Procurai manter-vos firmes nos
ensinamentos do Senhor e dos Apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes
na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no
princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa
espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus. Sejam
submissos ao bispo e também uns aos outros, assim como Jesus Cristo se
submeteu, na carne, ao Pai, e os apóstolos se submeteram a Cristo, ao Pai e ao
Espírito, a fim de que haja união, tanto física como espiritual" (Carta
aos Magnésios 13,1-2).
Justino, mártir no ano 151, escreveu
essas palavras ao imperador romano Antonino Pio: "Os que são batizados por
nós são levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma
como nós o fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor
Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito
foi-nos entregue pelos apóstolos" (I Apologia 61).
Policarpo de Esmirna, que foi
discípulo de S. João evangelista, mártir no ano 156, declarou: "Eu te louvo,
Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso
eterno e Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória
seja dada a ti, agora e nos séculos futuros! Amém" (Martírio de Policarpo
14,1-3).
Teófilo de Antioquia, ano 181,
confirmou: "Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros
são símbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de sua
Sabedoria [=Espírito Santo]" (Segundo Livro a Autólico 15,3).
Irineu de Lião, ano 189, afirmou:
"Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra
recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que
fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo,
Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos
profetas, anunciou a economia de Deus [...]" (Contra as Heresias I,10,1).
"Já temos mostrado que o Verbo,
isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito
estava igualmente junto d'Ele antes de toda a criação" (Contra as Heresias
IV,20,4).
Tertuliano, escritor romano cristão,
no ano 210: "Foi estabelecida a lei de batizar e prescrita a fórmula:
'Ide, ensinai os povos batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo'" (Do Batismo 13).
Agostinho (falecido em 430) dizia
que: “O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e, pela doação
eterna deste último ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão” (A Trindade,
15,26,47).
II.
A Trindade nos Concílios da Igreja
Os Concílios da Igreja trabalhou
este tema arduamente:
"Cremos [...] em um só Senhor
Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto é, da
substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem foi feito
tudo que há no céu e na terra. [...] Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte
de vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o
qual falou pelos Profetas" (Credo de Nicéia). Concílio de Nicéia, ano 325,
“Não professamos três deuses, mas um só Deus
em três Pessoas: “A Trindade consubstancial” (II Concílio. Constantinopla, DS 421).
“O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é
aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é,
um só Deus por natureza” (XI Concílio: Toledo, em 675, DS 530).
“Cada uma das três pessoas é esta realidade,
isto é, a substância, a essência ou a natureza divina” (IV Concílio. Latrão, em
1215, DS 804).
“Pai”, “Filho”, “Espírito Santo” não
são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são
realmente distintos entre si: “Aquele que é Pai não é o Filho, e aquele que é o
Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho” (XI
Concílio. Toledo, em 675, DS 530).
São distintos entre si por suas
relações de origem: “É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo
que procede” (IV Concílio. Latrão, em 1215,
DS 804).
A Profissão de Fé de Dâmaso diz: “Deus
é único, mas não solitário” (Fides Damasi, DS 71).
Estes concílios demonstram o esforço
da Igreja dos primeiros séculos para ensinar o grande Mistério de Deus. Este
mistério foi ensinado e celebrado pelos Protestantes e conservado nas Igrejas
evangélicas da atualidade.
A Doutrina da Trindade foi revelada
por Jesus e explicada pelos Pais da Igreja. Hoje como Metodistas afirmamos
nossa fé nesta herança apostólica.
João Wesley conservou nos 25 Artigos
de Religião esta doutrina dizendo: “Há um só Deus vivo e verdadeiro, eterno, sem
corpo nem partes; de poder, sabedoria e bondade infinitos; criador e
conservador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Na unidade desta
Divindade, há três pessoas da mesma substância, poder e eternidade - Pai, Filho
e Espírito Santo”.
Celebremos com muita alegria o Dia
da Santíssima Trindade.