A Festa da Páscoa para Francisco de Assis
Rev. Edson Cortasio Sardinha
A Páscoa foi marcante na vida de Francisco de Assis. Como
crente do século XIII, amou a morte e a ressurreição do Senhor do profundidade
e sensibilidade.
Boaventura diz que em
sua morte Francisco "pediu que fosse lido o texto de São João que começa
assim: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de
passar deste mundo ao Pai, havendo amado os seus que estavam no mundo, até o
extremo os amou..." (Jo 13,1). Queria
ouvir nessa passagem do Evangelho o chamado do Bem-Amado que bate à porta, esse
Bem-Amado de quem estava separado apenas pela simples parede da carne. Por fim,
tendo-se realizado nele todos os planos de Deus, o bem-aventurado adormeceu no
Senhor, orando e cantando um salmo".[i]
Francisco tentava
enxergar a tristeza e a pobreza do Senhor que ficou sozinho na noite de Páscoa,
preso pelos guardas do Templo. Tentava ver na festa da Páscoa a páscoa
solitária que o Senhor passou tanto na prisão e morte como no túmulo.
Tomás de Celano conta
que "num dia de Páscoa, os frades prepararam no eremitério de Gréccio uma
mesa mais bonita, com toalhas brancas e copos de vidro. Quando Francisco desceu
de seu quarto de oração (cela) e foi para a mesa, viu a arrumada em lugar
elevado e ostentosamente enfeitada: toda ela ria, mas ele não sorriu. Às
escondidas e devagarzinho, saiu, pôs na cabeça o chapéu de um pobre que lá
estava, tomou um bordão e foi para fora. Esperou à porta até que os frades
começaram a comer, porque estavam costumados a não esperá-lo quando não vinha
ao sinal. Quando iniciaram o almoço, clamou à porta como um pobre de verdade:
"Uma esmola, por amor de Deus, para um peregrino pobre e doente". Os
frades responderam: "Entra, homem, pelo amor daquele que invocaste". Entrou
logo e se apresentou aos comensais. Que espanto provocou esse peregrino!
Deram-lhe uma escudela, e ele se sentou à parte, pondo o prato na cinza. E
disse: "Agora estou sentado como um frade menor". Dirigindo-se aos
irmãos, disse: "Mais do que os outros religiosos, devemos deixar-nos levar
pela pobreza do Filho de Deus. Vi a mesa preparada e enfeitada, e vi que não
era de pobres que pedem esmola de porta em porta". O fato demonstra que
ele era semelhante àquele outro peregrino que ficou sozinho em Jerusalém nesse
mesmo dia de Páscoa. Mas, quando falou, deixou abrasado o coração de seus
discípulos[ii].
Para Francisco as
festividades da Páscoa não deveriam ser repletas de comidas e bebidas. deveria
ser semelhante ao ressuscitado que apareceu no caminho de Emaús.
Para Francisco devemos celebrar a Páscoa como peregrinos. Pedia que celebrassem
a Páscoa em pobreza de espírito, sempre lembrando que estamos nesta vida em
trânsito para a vida eterna.
Boaventura diz que
"certo dia de Páscoa, encontrando-se em um santuário ou eremitério, tão
distanciado do contato dos homens que não podia facilmente mendigar seu
alimento, lembrou-se daquele que no mesmo dia apareceu em traje de peregrino
aos discípulos no caminho de Emaús. Pediu esmola a seus irmãos, considerando-se
a si mesmo como um pobre peregrino. E tendo-a recebido com humildade,
instruiu-os nas divinas letras, exortando-os a que no deserto deste mundo se
julgassem peregrinos e estrangeiros, isto é, como verdadeiros israelitas, e a
que celebrassem continuamente em pobreza de espírito a Páscoa do Senhor, ou
seja, o trânsito desta vida à vida eterna"[iii].
O Tempo da Páscoa deve
ser celebrado sempre pensando na ressurreição do Senhor e na nossa ressurreição.
Somos peregrinos a caminho do Céu mediante a graça do Senhor através de sua
Morte e ressurreição. Jesus ressuscitou! Ele ressuscitou realmente!