terça-feira, 9 de abril de 2013



A Festa da Páscoa para Francisco de Assis

Rev. Edson Cortasio Sardinha

            A Páscoa foi marcante na vida de Francisco de Assis. Como crente do século XIII, amou a morte e a ressurreição do Senhor do profundidade e sensibilidade.
            Boaventura diz que em sua morte Francisco "pediu que fosse lido o texto de São João que começa assim: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, havendo amado os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou..." (Jo 13,1).  Queria ouvir nessa passagem do Evangelho o chamado do Bem-Amado que bate à porta, esse Bem-Amado de quem estava separado apenas pela simples parede da carne. Por fim, tendo-se realizado nele todos os planos de Deus, o bem-aventurado adormeceu no Senhor, orando e cantando um salmo".[i]
            Francisco tentava enxergar a tristeza e a pobreza do Senhor que ficou sozinho na noite de Páscoa, preso pelos guardas do Templo. Tentava ver na festa da Páscoa a páscoa solitária que o Senhor passou tanto na prisão e morte como no túmulo.
            Tomás de Celano conta que "num dia de Páscoa, os frades prepararam no eremitério de Gréccio uma mesa mais bonita, com toalhas brancas e copos de vidro. Quando Francisco desceu de seu quarto de oração (cela) e foi para a mesa, viu a arrumada em lugar elevado e ostentosamente enfeitada: toda ela ria, mas ele não sorriu. Às escondidas e devagarzinho, saiu, pôs na cabeça o chapéu de um pobre que lá estava, tomou um bordão e foi para fora. Esperou à porta até que os frades começaram a comer, porque estavam costumados a não esperá-lo quando não vinha ao sinal. Quando iniciaram o almoço, clamou à porta como um pobre de verdade: "Uma esmola, por amor de Deus, para um peregrino pobre e doente". Os frades responderam: "Entra, homem, pelo amor daquele que invocaste". Entrou logo e se apresentou aos comensais. Que espanto provocou esse peregrino! Deram-lhe uma escudela, e ele se sentou à parte, pondo o prato na cinza. E disse: "Agora estou sentado como um frade menor". Dirigindo-se aos irmãos, disse: "Mais do que os outros religiosos, devemos deixar-nos levar pela pobreza do Filho de Deus. Vi a mesa preparada e enfeitada, e vi que não era de pobres que pedem esmola de porta em porta". O fato demonstra que ele era semelhante àquele outro peregrino que ficou sozinho em Jerusalém nesse mesmo dia de Páscoa. Mas, quando falou, deixou abrasado o coração de seus discípulos[ii].
            Para Francisco as festividades da Páscoa não deveriam ser repletas de comidas e bebidas. deveria ser semelhante ao ressuscitado que apareceu no caminho de Emaús.
Para Francisco devemos celebrar a Páscoa como peregrinos. Pedia que celebrassem a Páscoa em pobreza de espírito, sempre lembrando que estamos nesta vida em trânsito para a vida eterna.
            Boaventura diz que "certo dia de Páscoa, encontrando-se em um santuário ou eremitério, tão distanciado do contato dos homens que não podia facilmente mendigar seu alimento, lembrou-se daquele que no mesmo dia apareceu em traje de peregrino aos discípulos no caminho de Emaús. Pediu esmola a seus irmãos, considerando-se a si mesmo como um pobre peregrino. E tendo-a recebido com humildade, instruiu-os nas divinas letras, exortando-os a que no deserto deste mundo se julgassem peregrinos e estrangeiros, isto é, como verdadeiros israelitas, e a que celebrassem continuamente em pobreza de espírito a Páscoa do Senhor, ou seja, o trânsito desta vida à vida eterna"[iii].
            O Tempo da Páscoa deve ser celebrado sempre pensando na ressurreição do Senhor e na nossa ressurreição. Somos peregrinos a caminho do Céu mediante a graça do Senhor através de sua Morte e ressurreição. Jesus ressuscitou! Ele ressuscitou realmente!


[i] S. Boaventura, LEGENDA MENOR : c.5
[ii] Tomás de Celano,  SEGUNDA VIDA DE SÃO FRANCISCO - Cp 31
[iii] S. Boaventura, LEGENDA MAIOR C. 9