Caminho da
Graça na Conversão de Francisco de Assis
Irmão Rev.
Edson Cortasio Sardinha
“A graça do Espírito Santo
procura despertar a fé, a conversão do coração e a adesão à vontade do Pai”. [1]
É esta graça
que atuou na vida de Francisco. A ação da Graça de Deus em sua história é um
claro testemunho do que Deus pode fazer na vida da pessoa que se entrega
totalmente a Cristo.
O caminho de
conversão de Francisco provoca em nós mudanças e nos leva a um desequilibro. A
pessoa que lê o testemunho de Francisco percebe o poder de Cristo que
transforma e muda a alma humana. O segredo de São Francisco está em sua
conversão. Este conversão também é o caminho que tem transformado a vida de
santos e santas de Deus. Somos desafiados a olhar Francisco e Clara como
testemunhos vivos da conversão que o Espírito de Deus deseja operar em nossas
vidas cotidianamente.
Leio o caminho
da conversão de Francisco fazendo caminhos para a minha própria conversão ao
projeto de Deus.
- A conversão
é um ato da graça de Deus.
Pela graça de
Deus qualquer pessoa pode ter uma experiência total e até mesmo progressiva de
conversão espiritual. A conversão é uma ação de Deus na vida da pessoa. Não
nasce do esforço humano, mas da graça do Senhor e seu imenso desejo de transformar.
Qualquer pessoa pode ser transformada por Deus.
Tomás de
Celano evidencia a graça de Deus na vida de Francisco. Ele escreve: “Desde então esteve sobre ele a mão do Senhor
e a destra do Altíssimo o transformou para que, por seu intermédio, fosse
concedida aos pecadores a confiança na obtenção da graça e desse modo se
tornasse um exemplo de conversão para Deus diante de todos”[2].
Francisco se transformou em exemplo
de conversão por intermédio unicamente da graça de Deus.
Celano diz que Francisco era um
homem simples “não pela natureza, mas pela graça”[3]
A luta que Francisco travou com sigo
mesmo pela sua conversão foi possível pela ação da graça de Deus em sua vida,
como diz a Legenda dos Três Cavaleiros: “Desde então começou cada vez mais a
desprezar-se, até conseguir, pela graça de Deus, a mais perfeita vitória sobre
si mesmo”[4].
Foi a ação da Graça de Deus que o
fez ser um novo homem. Francisco não escolheu Deus. Ele foi escolhido pelo
Senhor. O Anônimo Perusiano diz: “Por graça divina sentiu-se de repente mudado,
assim lhe parecia, num outro homem”[5].
Foi a graça de Deus que deu a
Francisco os primeiros discípulos na caminhada da conversão radical e
evangélica. “Vendo e ouvindo isto, dois homens de Assis, inspirados pela graça
divina, aproximaram-se humildemente dele”.[6],
conforme o Anônimo Perusiano.
A experiência de Francisco foi
unicamente com a graça de Deus. Zavalloni diz que “é na conversação com Deus, é na oração, que
Francisco compreendeu de que coisa o seu tempo tinha necessidade: não andou a
consultar nem doutos nem bibliotecas, mas lançou-se na perspectiva focal do
mistério de Deus”[7].
- A conversão
é um ato da graça de Deus que espera uma resposta humana.
Francisco
seguia um caminho de pecado. Tomás de Celano fala de sua vida mundana. Um homem
que não tinha tempo para Deus e que gastava o dinheiro de seu pai sem
responsabilidade. Pensava no imediatismo.
Tomás de Celano inicia sua Biografia dizendo: “Vivia na cidade de Assis, na região do vale
de Espoleto, um homem chamado Francisco. Desde os primeiros anos foi criado
pelos pais insensatamente, ao sabor das vaidades do mundo. Imitou-lhes por
muito tempo o triste procedimento e tornou-se ainda mais frívolo e vaidoso”[8].
Francisco foi educado para ser um jovem “mundano”.
Celano diz que: “Nesses tristes
princípios foi educado desde a infância... Neles perdeu e consumiu
miseravelmente o seu tempo quase até os vinte e cinco anos. Pior ainda: superou
os jovens da sua idade nas frivolidades e se apresentava generosamente como um
incitador para o mal e um rival em loucuras. Todos o admiravam e ele procurava
sobrepujar aos outros no fausto da vanglória, nos jogos, nos passatempos, nas
risadas e nas conversas fúteis, nas canções e nas roupas delicadas e luxuosas”.[9]
Deus foi sinalizando sua graça na vida de Francisco.
Esta sinalização levou um bom tempo. O período da prisão na Perúsia foi um
período de encontro com as sinalizações da Graça na vida de Francisco. Sua
longa doença foi um caminho de graça. A voz que ouviu no caminho para a batalha
("Quem te pode ser melhor, o
senhor ou o escravo?" Ele responde: "O senhor". A voz lhe
replicou: "E então, por que abandonas o Senhor pelo escravo; o Príncipe
pelo empregado?" Francisco responde: "Senhor, que queres que eu
faça?" A voz tornou: "Volta para a tua cidade, para fazer o que o Senhor
te vai revelar")[10]
foi um grito da graça na vida de Francisco.
Todos estes
sinais da graça foram realizados esperando pacientemente a resposta humana de
Francisco.
Como
responder? Procurando mais na Bíblia, na igreja e na liturgia. Dando as roupas
e os tecidos do pai aos pobres. Beijando o mendigo e leproso. Reconstruindo
capelas e igrejas. Se submetendo as orientações de seus líderes. Amando a
Igreja. Francisco em sua conversão como resposta a graça de Deus foi dando
passos e descobrindo caminhos.
Pela graça alcançou sua conversão total. Mas teve que
responder a esta graça e trabalhar diariamente sua conversão. Boaventura diz: “Como leal seguidor de Jesus crucificado,
Francisco crucificou sua carne com suas paixões e concupiscências, desde o
inicio de sua conversão, impondo-se uma disciplina rigorosa...”.[11]
Francisco insistiu em trabalhar sua
experiência de conversão. A conversão é um ato da graça de Deus que exige uma
resposta humana. Francisco “como verdadeiro imitador e discípulo do Salvador,
entregou-se, no princípio de sua conversão, com todo esforço, com todo desejo,
com toda decisão a buscar, encontrar e preservar a santa pobreza, sem duvidar
de adversidades, sem temer nada de sinistro, sem fugir a nenhum trabalho, sem
escapar de nenhuma angústia do corpo, para que lhe fosse dada finalmente a
opção de chegar àquela a quem o Senhor entregou as chaves do reino dos céus”[12].
- A Conversão
como ato da graça de Deus é experiência espiritual
Algumas pessoas
desejam trilhar os caminhos de Francisco a partir de eixos carnais, sociais e
humanos. Isso é possível até certo ponto do caminho, mas também é frustrante no
final. Vocação sem encontro com Deus se resume em cansaço.
Tudo foi
possível para Francisco por causa de sua experiência espiritual com Deus. A
Legenda Perusiana, relatando o sofrimento de Francisco com relação ao
tratamento da enfermidade nos olhos nos informa que, mesmo diante da dor, “ele era arrebatado na contemplação de Deus”[13].
Ele suportava a dor e cumpriu sua vida de testemunho por causa de sua
experiência espiritual com Deus.
Não
conseguimos construir projetos de conversões sem uma experiência espiritual com
Deus. Seria um caminho impossível. Todos os santos e santas de Deus nos apontam
para Deus. É Nele, o mistério, que reside nossa conversão para o caminho da
santidade.
Sabemos que
Francisco é um inspirador e provocador.
Vemos
Francisco e desejamos ser como Francisco. Então começamos a tentar andar atrás
de Francisco. Isso é fascinante. Mas percebemos que é uma utopia baseada no
calor da emoção. Quando tentamos dar profundidade a nossa experiência, construímos
com as próprias mãos caminhos, estatutos e Regras para fornecer a experiência
necessária. Mas isso também não dá certo.
As irmandades,
Ordens e Casas Religiosas conseguem celebrar o carisma, mas o carisma não é
passado como uma transfusão de sangue na instrumentalidade das instituições humanas.
A conversão
como ato da Graça de Deus é uma experiência espiritual com Deus. Francisco conseguiu
trilhar este caminho devido seu encontro com Deus.
Quantos
encontros Francisco teve com Deus? Muitos.
Alguns foram
registrados nas Fontes Biográficas e nos primeiros escritos; e outros não. O
Encontro de Francisco com Deus não dá para ser colocado num papel. É uma
experiência única, intransferível em uma dimensão pessoal/espiritual.
Vemos um homem
transformado pela graça e vivendo a realidade de Cristo. O mais parecido com
Cristo. O mais apaixonado por Cristo. Desejamos imitar. Criamos legendas. A História
é contata e enfeitada a cada dia. O conto se desenvolve tanto que acaba sendo artificial
e raso. Fica apenas uma imagem estática de um ser que talvez não existisse ou é
venerado pela religiosidade popular como uma imagem muito rápida e apressada de
alguém.
Mas todo o
caminho de Francisco, por mais provocador da sociedade, por mais palpável para
as teologias sociais, por mais que seja ícone dos discursos de políticos
parecendo “bons meninos”, foi um caminho da Graça que nasceu de uma experiência
espiritual.
Parece que
vejo Francisco apontando para o Cristo crucificado e morto, e me dizendo: “Faça
sua própria experiência com Ele”!
A experiência
de Francisco foi unicamente com Cristo. O Cristo lhe falou e converteu seu
coração. Seu interior ficou derretido pela experiência com o Cristo
crucificado, como ensinou seu discípulo Tomás de Celano[14].
Aqui está um
problema muito sutil e que muitas vezes não conseguimos enxergar. Minha
experiência franciscana não pode ser com Francisco, mas com o JESUS que Francisco
experimentou em sua conversão e vida.
Se eu conseguir
perceber a graça de Deus e sua vocação para minha vida, terei um encontro com
JESUS e serei um autêntico Franciscano, caminhando no caminho que Francisco
caminhou. Minha experiência será enriquecedora e verdadeira baseada no Encontro
com Cristo.
A Experiência
da conversão é um caminho espiritual com Cristo.
Francisco não
confiava na força de sua vontade ou na carne. Por conhecer a própria fraqueza
humana, buscava força na sua constante e progressiva experiência com Cristo
através da oração. Boaventura diz que “A oração era também uma defesa ao se entregar
à ação, pois persistindo nela, fugia de confiar em suas próprias capacidades,
punha toda a sua confiança na bondade divina, lançando no Senhor os seus
cuidados”[15].
- A Conversão
progressiva pela graça
Francisco não
teve a totalidade de sua experiência no longo período de enfermidade. Também
não conseguiu sua plena conversão construindo igrejas.
Sua conversão
foi um caminho. Caminho longo, de aprendizado, experiências e renuncias.
Boaventura
fala deste longo caminho de renúncia:
“No inicio de sua conversão, com a coragem e o
fervor do Espírito, chegou, em pleno inverno, a se lançar num fosso d'água
gelada ou de neve para sufocar inteiramente o inimigo que cada qual traz em si
e preservar dos ataques da volúpia a veste branca da inocência. Foi por essas
práticas que começou a brilhar nele a bela pureza, o inteiro domínio que ele
obteve sobre a carne. Parecia que tinha feito contrato com os olhos (cf. Jó
31,1): não só fugia a qualquer espetáculo que pudesse deleitar a carne, mas se
recusava mesmo a olhar tudo o que apresentasse caráter de curiosidade ou de
futilidade”[16].
Ele amava a
igreja, aprendia com a igreja e através da igreja teve suas experiências com
Deus. Mas também, de forma solitária, buscou um crescimento em Cristo e teve
várias de suas experiências diretas com Deus.
Sua conversão
progressiva é trabalhada no silêncio e nos diversos retiros espirituais que
exercia.
Tomás de
Celano dá um importante testemunho a este respeito:
Passado algum tempo nesse lugar (um
lugar calmo, secreto e solitário para poder se entregar a Deus) e tendo conseguido, por uma oração contínua e uma
contemplação freqüente, uma inefável familiaridade com Deus, teve vontade de
saber o que o Rei eterno mais queria ou podia querer dele. Buscava com afã e
desejava com devoção saber de que modo, por que caminho e com que desejos poderia
aderir com maior perfeição ao Senhor Deus segundo a inspiração e o beneplácito
de sua vontade[17].
Francisco foi
um homem com fome de Deus. Entendeu que o céu sustentava a terra. Sentava com a
graça de Deus diariamente. A graça de Deus trabalhou em sua vida
progressivamente a conversão.
- A conversão
que provoca
A conversão de
Francisco de Assis não foi um encontro religioso que o colocou no padrão dos
fiéis da época.
Sua conversão
não o colocou na média de sua geração. Não foi uma conversão medíocre. Foi uma
conversão abaixo, escandalizadora, anormal, transformadora e provocante.
Foi uma conversão
provocadora.
Francisco
provocou sua geração acolhendo o leproso com seus abraços e beijos. Sua atitude
causou perseguição, exclusão e revolta nos próprios religiosos.
A conversão de
Francisco provocou e trouxe reações imediatas sobre várias áreas:
a) Sobre a família:
A Família de
Francisco vivia da venda do comércio e do status. A lepra era conhecida como
uma desgraça que causava exclusão total do indivíduo com relação até com a
família. A conversão que levou Francisco a beijar um leproso trouxe angústia
para a própria família. Além de prejudicar as vendas dos tecidos, rebaixar o
status da família, também vinha o desconforto em poder ter um filho doente e excluído da sociedade e dos sonhos dos
jovens.
A conversão de
Francisco causou prejuízo financeiro na empresa do pai. O fato de pegar os
tecidos e dar aos pobres foi uma afronta provocadora aos projetos do mercado.
A família
também sofreu com o novo estilo de vida que a conversão causou em Francisco. Passou
a andar como mendigo, recolhendo pão para sobreviver. Ele perdeu a menor das
vaidades e passou a ser um indigente diante dos olhos dos pais.
O pai poderia
ser consolado se Francisco pelo menos aceitasse entrar na estrutura normal da
igreja e ser um padre ou um monge agostiniano ou beneditino. Francisco não
aceita esta opção. Para ele este não era o caminho exigido pela sua conversão.
Francisco abre
mão da herança do pai terreno e ganha as heranças do pai celeste. Tomás de
Celano testemunha que Francisco disse “na
frente de muitas pessoas que se tinham ajuntado: "Agora poderei dizer
livremente: Pai nosso, que estais nos céus. Pedro Bernardone já não é meu pai,
e a ele devolvo tanto o dinheiro como a minha roupa toda. Irei nu para o
Senhor"[18].
b) Sobre a Igreja
A Igreja tinha caminhos prontos. Francisco teve a
oportunidade de viver sua conversão nos caminhos tradicionais e naturais da
igreja. Mas sua conversão além de restaurar a igreja que estava com as bases
quebradas, também causou um abalo em bases estabelecidas. Todos que viviam na
fé de que a riqueza e a glória eram sinais de bênçãos, foram criticados por sua
conversão silenciosa. “Enquanto viveu
neste vale de lágrimas, o santo pai desprezou as míseras riquezas dos filhos
dos homens e, ambicionando a mais alta glória, dedicou-se de todo coração à pobreza”[19].
Os homens da igreja tentaram levar Francisco para o clero ou para o
monastério[20].
Francisco resistiu. Deseja apenas ser um arauto de Deus e anunciar livre sua
grande descoberta: O Evangelho do Senhor JESUS.
Pela graça de Deus, Francisco teve o apoio do papa Inocêncio III[21].
Se Francisco não tivesse o apoio do Papa, sua relação com a igreja
poderia ser desastrosa e sofredora, pois sua conversão não estava na trilha do
cristianismo de sua época. Sua conversão provocou a própria igreja, apesar de
venerar os valores, doutrinas e a hierarquia da igreja. Não falou contra a
igreja, apenas caminhou no caminhou que muitos da igreja não caminhavam.
c) Sobre a sociedade de sua época.
A conversão de Francisco provocou a sociedade. Ele desprezou os que os
pobres mais desejavam e fez os ricos se sentirem culpados. Caminhou na
contramão de sua época. Desprezou o resultado do esforço egoísta dos homens. Estabeleceu
em sua vida um caminho a margem de sua época. Sua conversão influenciou
médicos, advogados, professores, príncipes.
Seus discípulos saíram do trilho da sociedade. Cantaram o que ninguém
cantava e dançaram a música que ninguém tocava. Francisco viveu os valores do
Reino de Deus de forma radical, total e inquietante. Colocou o Evangelho de
Cristo como meta em sua vida sem pedir licença. Quis viver a radicalidade do
amor e da fé evangélica mesmo contra o bom senso de sua sociedade.
d) Sobre seu futuro
O que Francisco como jovem desejava para seu futuro?
Gostava de gastar o dinheiro do pai, vivia nas festas e no pecado.
Seria um comerciante ou um grande cavaleiro. Seu pai desejava muito seu
envolvimento na Cruzada para trazer prestígio e poder para a própria família. O
futuro do jovem Francisco seria maravilhoso. Mas Francisco joga tudo fora por
amor ao Evangelho do Senhor.
Seu futuro fica comprometido. Ele sai da rota. Joga os sonhos juvenis
no lixo e caminha radicalmente contrário a todos. A sua conversão faz com que
as expectativas dos outros fossem frustradas, principalmente suas próprias expectativas.
e) Sobre o cristianismo
Escrevo este texto como protestante de uma igreja Histórica do século
XVIII. Ouvi a história de Francisco em minha preparação para a Primeira
Comunhão. Li o “Cântico do Irmão Sol” quando ainda era aluno do primário, com 8
anos de idade. Li textos, assisti filmes e me apaixonei por sua conversão. Foi
o homem mais evangélico de conheci.
Não apenas a Igreja Católica foi provocada pela experiência de
Francisco, mas toda a cristandade tem sido impactada pela história de sua
conversão. Atualmente existem muitos grupos franciscanos dentro das igrejas
protestantes.
A protestante Madre Schlink, da Irmandade Evangélica de Maria, em seu
livro “O Mundo de São Francisco” escreve:
“Em sua personalidade, seu caráter e sua
vida descobri a mensagem do Evangelho: "Se não vos tornardes como
crianças... Graças te dou, ó Pai, porque ocultaste estas coisas aos sábios e
entendidos, e as revelaste aos pequeninos, aos fracos e ignorantes..." O
cativante coração infantil e humildade de Francisco de Assis, que se tornaram a
fonte de todo poder e autoridade no seu ministério por Jesus, tocaram o meu
coração. O ardente amor por Jesus, nascido do arrependimento, a estreita
comunhão do coração com Jesus, quem é a fonte de toda a alegria. Tudo isso eu
podia ver na vida de S.Francisco. Isso fortaleceu em mim o desejo de amar mais
a Jesus. Dos resultados da vida e discipulado de S.Francisco, percebi que
somente o amor ardente por Jesus traz a solução para os problemas e
dificuldades na Igreja e no mundo, como
foi demonstrado em certo sentido na sua época[22].
A conversão de Francisco abalou e abala o cristianismo, provoca a
religião de mercado, ridiculariza as conversões artificiais e rasas das muitas
igrejas chamadas evangélicas da atualidade. A conversão de Francisco restaura
um modelo de conversão que não se encaixa nas estruturas do cristianismo
moderno.
f) Sobre o mundo
O mundo rejeita o pobre e trabalha num projeto de exclusão. Os valores
do mundo leva-nos a ter bens além do necessário. Somos viciados pelo comércio e
pelas novas tecnologias.
O mundo diz que precisamos do seguinte produto para ser feliz. Ser
feliz é comprar uma cama nova. Ser feliz é andar na moda. Ser feliz é ter a
última tecnologia. O ter exclui e aumenta a desigualdade social.
A conversão de Francisco denuncia e incomoda a sociedade atual. Alguns
pais ficam desesperados quando seus filhos desejam uma conversão radical como a
que Francisco teve. Ser franciscano incomoda o mundo e traz inquietação.
Conclusão:
Um Chamado a conversão
Sou cristão e sirvo o Senhor como presbítero, mas leio Francisco de
Assis como um forte apelo a minha própria conversão cotidiana. Uma conversão que
causa estranheza em minha própria rota. Uma conversão que frustra as
expectativas que os outros tem sobre mim. Uma conversão que coloca Deus em seu
verdadeiro lugar em minha vida. Uma conversão que me dá medo.
Mas, na essência da minha vida, é esta conversão que desejo sempre. Não
ganhar a Salvação pelo esforço religioso, mas viver na celebração da Salvação
que ganhei pela Graça. Viver rico não tendo nada. Viver dançando sem música,
por ter a música da conversão dentro de mim.
Francisco viveu uma conversão radical, transformadora e evangélica.
É esta que busco para a minha curta, pequena e insignificante
peregrinação.
Toda a nossa vida e morte são
para o “louvor, glória e honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo reino e
império permanecerá firme e estável por todos os séculos dos séculos. Amém”[23].
Irmão Rev. Edson Cortasio Sardinha – Presbítero
(pastor) da Igreja Metodista no Brasil, Teólogo, Educador, Especialista em
Ciências da Religião e em Liturgia e Artes Sacras.
[1] Catecismo da Igreja Católica. C.75.10 Conversão dom do
Espírito Santo - §1098
[2] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.1,
C.1. - 2
[3] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.1,
C.21. - 58
[4] LEGENDA DOS TRÊS COMPANHEIROS : C.5. parágrafo 11
[5] ANÔNIMO PERUSINO : C.2. – Parágrafo 6.
[6] ANÔNIMO PERUSINO : C.2. – Parágrafo 10.
[7]
Zavalloni, Roberto. Pedagogia Franciscana. Desenvolvimento e perspectivas.
Editora Vozes: Petrópolis RJ, 1999. pg 131.
[8] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.1,
C.1. - 1
[9] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.1,
C.1. - 2
[10] ANÔNIMO PERUSINO : C.2. – parágrafo 6.
[11] S. Boaventura LEGENDA MENOR : C.3. Parágrafo 1
[12] SACRUM COMMERCIUM” ALIANÇA DE SÃO FRANCISCO COM A
SENHORA POBREZA: C.1. Parágrafo 4.
[13] LEGENDA DE PERUSA: C.86. “E se deleitava tanto com
elas, e seu espírito tinha tamanha compaixão e piedade por elas que se
perturbava quando alguém não as tratava bem. E também conversava com elas com
alegria interior e exterior, como se sentissem, entendessem e falassem de Deus,
de forma que, muitas vezes, quando fazia isso, era arrebatado na contemplação
de deus. Pois, uma vez, quando estava sentado perto do fogo, sem que ele
percebesse, o fogo invadiu seus panos de linho que cobriam a perna. Quando
sentiu o calor do fogo e o seu companheiro viu que o fogo estava queimando seus
panos, correu para apagá-lo. Mas ele lhe disse: “Irmão caríssimo, não queira
fazer mal ao irmão fogo”. E assim não lhe permitiu de modo algum que o apagasse”.
[14] Tomás de Celano TRATADO DOS MILAGRES DO BEM-AVENTURADO
FRANCISCO: C.2. Parágrafo 2. "Francisco, vá reparar minha casa que, como
vês, está sendo toda destruída". Desde então ficou profundamente gravada
em seu coração a lembrança da paixão do Senhor e, realizada uma enorme
conversão interior, sua alma começou a derreter-se, quando o amado lhe falou.”
[15] S. Boaventura LEGENDA MAIOR : C 10. Zelo na
oração e poder de sua prece. – Parágrafo 1
[16] S. BoaventuraLEGENDA MENOR : C .3. AS VIRTUDES
COM QUE DEUS O DISTINGUIU – parágrafo 1
[17] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO :
L.2, C 2. O maior desejo de São
Francisco. Compreende a vontade de Deus a seu respeito ao abrir o livro.
[18] Tomás de Celano. SEGUNDA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L 1, C 7. A perseguição do pai e de
seu irmão de sangue.
[19] Tomás de Celano SEGUNDA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.6, C 25. Louvor à
Pobreza.
[20] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.1,
C.13 : “São Francisco também se
apresentou ao senhor bispo de Sabina, João de São Paulo, que se destacava entre
os outros príncipes e dignitários da Cúria Romana por "desprezar as coisas
terrenas e aspirar às celestiais" Este o recebeu com "bondade e
caridade" e elogiou bastante sua resolução e seus projetos. Entretanto,
prudente e discreto, interrogou-o sobre muitos pontos e tentou persuadi-lo a
passar para a vida monástica ou eremítica. Mas São Francisco recusou com
humildade e quanto lhe foi possível esse conselho, sem desprezar os argumentos,
mas por estar piedosamente convencido de que era conduzido por um desejo mais
elevado. Admirava-se o prelado com seu fervor, e temendo que fraquejasse em tão
altos propósitos, mostrava-lhe caminhos mais fáceis. Afinal, vencido por sua
constância, anuiu a seus rogos e procurou apoiar sua causa diante do Papa”.
[21] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.1,
C.13. Tendo-lhes feito muitas exortações e admoestações, abençoou São Francisco
e seus irmãos e lhes disse: "Ide com Deus, irmãos, e conforme o Senhor se
dignar inspirar-vos, pregai a todos a penitência. Quando o Senhor vos tiver
enriquecido em número e graça, vinde referir-me tudo com alegria, e eu vos
concederei mais coisas do que agora e, com maior segurança, vos confiarei
encargos maiores".
[22]
Madre Basiléia Schlink. Os Irmãos Franciscanos de Canaã. In http://www.canaan.org.br/irmandade_irmaos.htm
[23] Tomás de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO : L.4,
C.7.